Viagem de Bike Estrada Real - Petrópolis (RJ) a Diamantina (MG). Verão 2017.
Disponível em:<www.institutoestradareal.com.br/estradareal#mapa-estrada-real. Acesso: 1º/03/2017.
VIAGEM
DE BIKE ESTRADA REAL |
||
PETRÓPOLIS
(RJ) A DIAMANTINA (MG) |
||
1ª
ETAPA |
PETRÓPOLIS
(RJ) A OURO PRETO (MG) CAMINHO
NOVO |
438
km |
2ª
ETAPA |
OURO
PRETO (MG) A COCAIS (MG) CAMINHO
O SABARABUÇU |
202
km |
3ª
ETAPA |
COCAIS
(MG) A DIAMANTINA (MG) CAMINHO
DOS DIAMANTES |
263
km |
TOTAL |
903
km |
1ª
ETAPA | |||||
CAMINHO
NOVO 438 km | |||||
PETRÓPOLIS
(RJ) A OURO PRETO (MG) | |||||
CAMINHO NOVO 438 km | DATA | TRECHOS | KM | TOTAL | ∑ |
27/12/2016 | Petrópolis
(RJ) a Itaipava (RJ) | 32 | 66 | 66 | |
Itaipava
(RJ) a Paraíba do Sul (RJ) | 34 | ||||
28/12/2016 | Paraíba
do Sul (RJ) a Monte Serrat (RJ) | 21 | 69 | 135 | |
M.
Serrat (RJ) a Matias Barbosa (MG) | 24 | ||||
M.
Barbosa (MG) a Juiz de Fora (MG) | 24 | ||||
29/12/2016 | J. Fora (MG) a Ewbank da Câmara (MG) | 48 | 68 | 203 | |
E.
da Câmara (MG) a Sto. Dumont (MG) | 20 | ||||
30/12/2016 | Sto. Dumont (MG) a Ant. Carlos (MG) | 56 | 56 | 259 | |
31/12/2016 | Antônio
Carlos (MG) a Barbacena (MG) | 13 | 41 | 300 | |
Barbacena
(MG) a Ressaquinha (MG) | 28 | ||||
01/01/2017 | Ressaquinha
(MG) a Carandaí (MG) | 30 | 62 | 362 | |
Carandaí
(MG) a Queluzito (MG) | 32 | ||||
02/01/2017 | Queluzito
(MG) a C. Lafaiete (MG) | 20 | 44 | 406 | |
C.
Lafaiete (MG) a Ouro Branco (MG) | 24 | ||||
03/01/2017 | Ouro
Branco (MG) a Ouro Preto (MG) | 32 | 32 | 438 |
[...] os cofres portugueses eram como buracos negros a sugar o ouro e
diamante que aflorasse na Capitania [...].
[...] A Capitania de Minas era a menina dos olhos da Coroa porque do seu ouro Portugal se sustentava.
Fonte: Ibañez, Alexandre. Marília de Dirceu : a musa, a inconfidência e a vida privada em Ouro Preto no século XVIII / Alexandre Ibañez, Staël Gontijo - Belo Horizonte : Gutenberg Editora, 2012, pp. 51- 65.
[...] a causa verdadeira da falta de ensino superior [na Colônia] estava no desejo de Portugal em manter a população na ignorância e, com ela, impedir que pleiteassem emancipação política.
Fonte: Ibañez, Alexandre. Marília de Dirceu : a musa, a inconfidência e a vida privada em Ouro Preto no século XVIII / Alexandre Ibañez, Staël Gontijo - Belo Horizonte : Gutenberg Editora, 2012, p. 67.
Em 1701, a necessidade de um caminho mais
seguro e rápido, ligando Ouro Preto (antiga Vila Rica) ao Rio de Janeiro, sede
da Corte e de onde o metal precioso era embarcado para Portugal, fez com que a
Coroa Portuguesa ordenasse a construção de outra rota, nomeada Caminho
Novo, edificada por Garcia Rodrigues Paes, filho do bandeirante Fernão Dias
Paes. Foram sete anos (1698-1705) para a conclusão da obra.
Disponível em:< www.infoescola.com/brasil-colonia/estrada-real/>. Acesso: 1º/03/2017.
"O
Caminho Novo era a síntese de Minas. Em cinco décadas de existência, a estrada
tinha sido palco de esperanças e tragédias da corrida do ouro no Brasil".
"Por
toda parte viam-se as marcas do apogeu da produção do metal precioso e também
da decadência".
"As
matas devastadas, a terra revolvida, as encostas escalavradas, ribeiras
desviadas, tudo posto fora de lugar pela mineração."
A
[três] descrições [acima] do Caminho Novo têm como base a reconstrução
histórica do cenário da Estrada Real, na segunda metade do século XVIII, feita
por Sérgio Alcides na obra Estes Penhascos: Cláudio Manoel da Costa e a
paisagem das Minas, 1753 - 1773, p.121.
Moro em Brasília (DF), de onde parti
[de ônibus] no dia 25/12/2016. Cheguei a Petrópolis (RJ) às 6h 30 do dia
seguinte.
Hospedei-me no Hotel Grão Pará,
defronte à antiga Rodoviária e estrategicamente localizado ao lado da Estrada
Mineira, ponto de partida do Caminho Novo. Recomendo o Grão Pará.
Hotel Grão Pará. Foto: Fernando Mendes.
Excelente estada e ótima localização.
27/12/2016 | ||
1º dia | Petrópolis (RJ) a Paraíba do Sul (RJ) | 66
km |
Acordei cedo e fui [a passos] ao
Centro de Informações Turísticas de Petrópolis
(RJ) - 278.881 habitantes. Censo IBGE 2020 - retirar o
Passaporte da Estrada Real. O quiosque abriu com meia hora de atraso.
Enquanto aguardava o
preenchimento/liberação do salvo-conduto, um pardal desnorteado, deu várias
voltas à sala até dar outra vez com a saída, livre para continuar a voar, bem
como eu, livre para iniciar minha jornada.
Do Centro de Informações Turísticas
de Petrópolis (RJ), voltei ao Hotel Grão Pará, arrumei meus haveres e, pela
Estrada Mineira (*), uma rua suja, escura e favelizada, dei por aberta as
primeiras pedaladas para alcançar - em 21 dias - a distante Diamantina (MG),
903 quilômetros à frente.
(*) A Estrada Mineira abrigou os trilhos da Estrada
de Ferro Mauá, por onde circularam os trens que deixavam o Rio de
Janeiro e se destinavam a Carangola (MG), Ponte Nova (MG) e Ubá (MG). Era o
chamado “Expresso Mineiro”, que partia [diariamente] da capital do Estado,
pontualmente às 7h 48. A Estrada de Ferro Mauá,
oficialmente denominada Imperial Companhia de Navegação a Vapor e Estrada de
Ferro de Petrópolis, foi a primeira ferrovia a ser estabelecida no Brasil. Inaugurada em 30 de abril de 1854,
teve seu trecho inicial ligando o Porto de Mauá a Fragoso, no Rio de Janeiro,
numa extensão de 14,5 km. Construída pelo empreendedor
brasileiro Irineu Evangelista de Sousa, o Visconde de Mauá, o trecho
ferroviário seguia da estação de Guia de Pacobaíba, no atual município de
Magé, até Fragoso, localidade de Inhomirim. A extensão até Raiz da Serra (Vila
Inhomirim) se deu em 1856, quando se iniciou a subida por cremalheira para
Petrópolis e Areal. Disponível em:<http://www.ihgi.org/426732463>. Acesso: 1º/03/2017 (com adaptações). |
Túnel da Cascatinha.
Estrada Real trecho entre Petrópolis
(RJ) e Paraíba do Sul (RJ). Foto: Fernando Mendes.
À saída da galeria, segui pela Rua Quissamã, passei [às 11h] pela [antiga] Estação Ferroviária de Cascatinha e cheguei a Itaipava [11h 57], distrito de Petrópolis (RJ), também conhecida como a “Búzios Serrana”.
Estação Ferroviária de Cascatinha.
Estrada Real trecho entre Paraíba do Sul (PB) e Juiz de Fora (MG).
Foto: Fernando Mendes.
Com inúmeros condomínios fechados e
de alto padrão, pequenos shoppings, com sofisticadas lojas de
grifes, Itaipava (pedra redonda, em Tupi) é frequentada por parte da sociedade
carioca.
O distrito abriga muitas pousadas com
ampla infraestrutura, hotéis de alto padrão e sofisticados restaurantes.
Parada para açaí em Corrêas, bairro
de Petrópolis (RJ).
Alcancei o Castelinho de Itaipava às 12h 26 e almocei em Pedro do Rio, outro distrito de Petrópolis (RJ), que abriga a Cervejaria Itaipava.
Castelinho de Itaipava. Estrada Real
trecho entre Petrópolis (RJ) e Paraíba do Sul (RJ).
Foto: Fernando Mendes.
Castelinho de Itaipava. Estrada Real
trecho entre Petrópolis (RJ) e Paraíba do Sul (RJ).
Foto: Fernando Mendes.
7,5 quilômetros adiante, e rumando
pela Rodovia RJ - 123, alcancei Secretário, outro subdistrito de Petrópolis
(RJ). Eram às 14h 15.
Foto:
Fernando Mendes.
De Secretário em diante, pedalei - em
ascenso - por 12 quilômetros [asfalto] até o Arraial de Inconfidência, 3º
distrito de Paraíba do Sul (RJ), também conhecido por Arraial de Sebollas, a
antiga Vila de Santana de (*) Sebollas, atual Inconfidência, que conta com 1.200 habitantes, Cendo
IBGE 2010.
(*) A localidade de Sebollas, também conhecida como Inconfidência, guarda
passagens importantes de nossa história.
Consta que ali, com frequência, pousava Tiradentes
em suas viagens ao Rio de Janeiro, tendo - naquele sítio - desenvolvido algumas amizades.
Preso e enforcado por sua atuação na Inconfidência
Mineira, o Alferes teve o corpo partido em pedaços e algumas partes ficaram expostas
em lugares públicos, ao longo do trajeto por ele habitualmente percorrido, desde
as Minas Gerais, para que constasse como exemplo e desestímulo a eventuais
insurgentes.
Foi assim que, uma das partes de seu corpo, o
quarto superior esquerdo, foi pendurado na localidade de Sebollas.
Disponível em:< https://www.sebollas.com.br/p/historia-de-sebollas.html>.
Acesso: 1º/03/2017 (com adaptações).
Disponível em:<
https://www.sebollas.com.br/p/historia-de-sebollas.html>.
Acesso: 1º/03/2017.
No início da tarde de 21 de abril de 1792, retirado da forca, o seu corpo foi entregue a soldados tidos como hábeis na arte de esquartejar. Dividiram o cadáver de acordo com o decidido na sentença, as partes foram colocadas em sacos de couro com suficiente quantidade de sal.
Foram chamados tropeiros a fim de fazer o transporte das peças para o sítio das Sebollas e para Minas. A viagem durou cerca de 20 dias, o dobro do tempo normal, pois eles tinham que providenciar a entrega dos restos ao longo do caminho para serem expostos.
O sítio [das Sebollas] foi o primeiro local a receber 1/4 do corpo de Tiradentes e a pendurá-lo no alto do poste; o segundo quarto foi levantado no Arraial da Igreja (atual Barbacena); o terceiro, entregue na Estalagem da Varginha, situada a seis quilômetros de Conselheiro Lafaiete e o último quarto foi pendurado no sítio das Bandeiras, próximo a Cachoeira do Campo.
Coube a Vila Rica (Atual Ouro Preto) a cabeça que, guardada por sentinelas, ficou expostas por dias.
Fonte: Ibañez, Alexandre. Marília de Dirceu : a musa, a inconfidência e a vida privada em Ouro Preto no século XVIII / Alexandre Ibañez, Staël Gontijo - Belo Horizonte : Gutenberg Editora, 2012, p. 131-132.
Estrada Real trecho entre Petrópolis
(RJ) e Paraíba do Sul (RJ).
Chegada a Inconfidência (RJ). Foto:
Fernando Mendes.
Visitei o Museu Sacro de Tiradentes,
uma pequena casa na qual estão guardadas as relíquias do alferes Joaquim José
da Silva Xavier, o Tiradentes (1746-1792).
Museu Sacro de
Tiradentes. Foto: Fernando Mendes.
Ao demonstrar sua insatisfação com a
voracidade fiscal da Coroa Portuguesa, Tiradentes APREGOAVA A
NECESSIDADE DA EMANCIPAÇÃO DA CAPITANIA DE MINAS GERAIS DE PORTUGAL [E NÃO A EMANCIPAÇÃO DO
BRASIL].
Esse episódio histórico ficou
conhecido por Inconfidência Mineira e Tiradentes foi condenado, pela Rainha D.
Maria I - a louca-, à forca e, posterior, esquartejamento.
Inconfidência Mineira e seu caráter
estritamente econômico.
“Em
1763, [...] sua majestade o Rei D. José I, pai da futura Rainha D. Maria I, a
louca, lançou mão de um instrumento radical para cobrar a parcela do quinto (*) não
recolhida". "Era a derrama, sinônimo de coleta forçada de
impostos".
Fonte:
O Tiradentes : Uma biografia de Joaquim José da Silva Xavier / Lucas
Figueiredo - 1ª ed - São Paulo : Companhia das Letras, 2018, p. 51.
(*) O termo quinto não significou necessariamente a
quinta parte (1/5) ou 20% da produção de ouro. Na verdade, o quinto assumiu o
significado de quota devida sobre o ouro, podendo não corresponder ao limite
de 20%, ou seja, o quinto ficou sendo a denominação para qualquer forma de
encargo tributário destinado especificamente às explorações auríferas. Fonte: Ibañez, Alexandre. Marília de Dirceu : a musa, a inconfidência e a vida privada em Ouro Preto no século XVIII / Alexandre Ibañez, Staël Gontijo - Belo Horizonte : Gutenberg Editora, 2012, p.61. |
“Os
meios utilizados, na prática da derrama, iam de pressão à violência física”.
“Nas
ruas, nas estalagens, nos ranchos à beira das estradas, o assunto era a
derrama”.
“A
indignação transbordou e os conjurados se organizaram”, escreveu Lucas Figueiredo na Obra Boa ventura!
A
Corrida do Ouro no Brasil. Rio de Janeiro : Record, 2011, p. 294.
Escrito
pelo brasilianista (estrangeiro especializado em assuntos brasileiros) Kenneth
Maxwell, a brilhante obra A Devassa da Devassa desvelou (pôs à
vista) os mitos que cercavam a Inconfidência Mineira e revelou
seu caráter profundamente econômico. Ainda hoje, a obra é a
principal referência sobre o tema.
Disponível
em:<https://docero.com.br/doc/xxsn8>. Acesso: 30/06/2014.
“Naquele momento [1789] as principais referências dos
conspiradores (ou conjurados – incluindo Tiradentes) NÃO eram (*) D.
Maria I e seus ministros
estrábicos, mas SIM os iluministas da Europa, os
revolucionários franceses, prestes a derrubar a monarquia
de Luís XVI, e os libertadores da América do Norte que, treze anos
antes [1776], conseguiram a independência dos Estados Unidos da América”.
“Os conspiradores ou conjurados sonhavam mais baixo”. “Queriam apenas que a capitania (E NÃO A COLÔNIA BRASIL) se desgarrasse de Portugal”.
“A instalação de um regime democrático NÃO ESTAVA NO
HORIZONTE DOS CONJURADOS, bem como a ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA”.
“O
farol da Inconfidência Mineira não era propriamente a política, mas sim a
economia”.
“O poder e a riqueza é que estavam em
jogo, não uma noção mais ampla de liberdade”.
“Os
inconfidentes não pensavam em fundar uma nação”. “Desejavam, tão
somente, dominar os rendosos postos da burocracia estatal, eliminar os
monopólios comerciais de Portugal (Pacto Colonial) e livrar-se
das mordidas da Coroa (derrama e o quinto) sobre os frutos das magras minas de
ouro”.
“O negócio da conspiração ou Inconfidência Mineira eram os negócios”.
IBIDEM (termo em latim que significa "na mesma
obra"), ou seja:
Lucas Figueiredo na Obra Boa ventura!
A Corrida do Ouro no Brasil. Rio de
Janeiro : Record, 2011, p. 296.
(*) Rainha Maria I, apelidada de "a Piedosa" e, posteriormente, "a Louca", foi Rainha do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves (1777 – 1815).
Morreu em 1816, no Rio de Janeiro, durante o exílio forçado [de 13 anos] da Família Real no Brasil (1808 – 1821).
E assim, seu filho, o Príncipe D. João VI, tornou-se Rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.
D. João VI morreu em Lisboa (1826).
(Nota do Autor).
E
foi justamente por causa dos negócios que a conjuração ou Inconfidência Mineira
chegou ao fim. Um dos conspiradores (ou conjurados), Joaquim Silvério dos Reis,
um dos homens mais ricos de Vila Rica (atual Ouro Preto – MG), delatou seus
companheiros ao governador Luís Antonio Furtado de Mendonça, o Visconde de
Barbacena.
O
traidor (Silvério dos Reis) acreditava que, em troca da informação, teria suas
dívidas com a Coroa perdoadas ou pelo menos aliviadas, quando da execução da
derrama. Com as informações passadas por Silvério dos Reis, o governador
(Visconde de Barbacena) conseguiu dissolver o movimento sem dificuldades.
Ao
serem interrogados, praticamente todos os inconfidentes, à exceção de
Tiradentes, negaram participação na trama, alegando desde mal-entendidos a
bravatas feitas sob efeito de álcool. A maioria dos conjurados foi punida
com desterro (onde se está muito a desgosto) nas colônias portuguesas na
África.
Tiradentes,
o ponto mais frágil da urdidura (trama), teve o fim mais cruel. Depois de
amargar três anos de prisão na Ilha das Cobras - RJ, foi enforcado, decapitado
e esquartejado em 21/04/1792, por determinação da Rainha Maria I, a louca.
O martírio de Tiradentes certamente ensinou algo aos mineiros, mas também à Coroa. Temendo outras revoltas, a derrama foi cancelada.
IBIDEM, pp. 296 - 7.
Entre os planos dos inconfidentes
estava transferir a capital para São João del Rei, “por ser mais bem
situada e farta de mantimentos”, como depôs o conjurado Domingos de Abreu
Vieira; “criar uma universidade em Vila Rica”, segundo depoimento deste
mesmo conjurado; “unir Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro para se
terem os recursos militares e financeiros necessários, e dotar a capitania de
uma costa marítima, com portos abertos à navegação”, conforme depôs Padre
Carlos Corrêa de Toledo […]. […] a revolução mineira de 1789
demonstrou o grande e irreprimível anseio do povo em sacudir o jugo lusitano
que lhe embargava os passos. Fonte: Ibañez, Alexandre. Marília
de Dirceu : a musa, a inconfidência e a vida privada em Ouro Preto no século
XVIII / Alexandre Ibañez, Staël Gontijo - Belo Horizonte : Gutenberg Editora,
2012, p.132. |
A Inconfidência Mineira teve duração
fugaz, porque no espaço de pouco menos de um ano ela foi planejada,
denunciada e sufocada. A Conjuração Mineira, que aconteceu
sem armas, sem cavalaria, sem logística ou batalha, foi sumariamente
exterminada pela força da lei, que viu nela uma ameaça, mesmo com as únicas
armas reais que possuíam os conjurados: o intelecto e as letras, o que, bem
aplicados e difundidos, tornar-se-iam perigo letal para governos autocráticos
e déspotas decadentes. IBIDEM, p.132. |
A Coroa Portuguesa fez expor parte
dos restos mortais do Alferes Tiradentes nessa localidade na tentativa de
inibir outras conspirações contra a Coroa, principalmente no Caminho Novo da Estrada Real.
"Depois de rodar 110
quilômetros, a comitiva parou em Cebolas, ainda em território fluminense, e
cumpriu sua primeira missão: espetou um dos pedaços do corpo de Tiradentes em
uma estaca bem alta e fincou-a no local de maior movimento do arraial".
"A escolha por Cebolas, feita pela Alçada,
(competência de um juiz ou tribunal) não foi fortuita (impensada): aquela tinha
sido uma das praças onde Joaquim exercera sua prática sediciosa
(revolucionária)".
"Nas proximidades do arraial,
por exemplo, ele tentara recrutar alguns tropeiros, que fizeram rir dele".
"Terminada a tarefa, e com
mais quatro partes do cadáver para desovar, a comitiva seguiu adiante".
Fonte: Figueiredo, Lucas. O
Tiradentes : Uma biografia de Joaquim José da Silva Xavier/Lucas Figueiredo -
1ª ed. - São Paulo : Companhia das Letras, 2018, p. 365.
Parti
do antiga Vila de Santana de Sebollas às 16h 19. Faltavam 21 quilômetros, 100%
em descenso asfaltado, até Paraíba do Sul (RJ).
Às
17h atravessei Queima Sangue, bairro de Paraíba do Sul (RJ), tão desconhecido
quanto Marte. Nesse pacto lugar, a vida decorre monótona e placidamente.
Queima Sangue. Foto:
Fernando Mendes.
"O
bairro [Queima Sangue] começou a ser
criado após se tornar um ponto de parada dos tropeiros, pessoas que levavam o
ouro através de muares (mulas)".
"Quando
passavam por Paraíba do Sul, fizeram de Queima-Sangue local de parada para se
abrigarem e aproveitavam para cauterizar as feridas das mulas e cavalos
utilizados no transporte do ouro".
"O
bairro ganhou o nome de Queima-Sangue, local no qual era queimado o sangue dos
animais para cicatrização".
"Segundo
historiadores, o lugar [das
cauterizações] ocorria na atual Praça Sebastiana Nunes".
Disponível
em:<http://blogdequeimasangue.blogspot.com/p/historia-do-bairro.html>. Acesso:
1º/03/2017 (com adaptações).
Às 17h 25, outro bairro [de Paraíba do Sul] com nome estranho: Fernandó.
Fernandó. Foto:
Fernando Mendes.
Às 17h 45 estava em Paraíba do Sul (RJ) - 42.063 habitantes - Censo IBGE 2022, município pioneiro da Serra Fluminense, e hospedei-me no Hotel Itaoca. Recomendo.
(Ita=pedra)
(Oca=casa). Casa de Pedra.
Hotel Itaoca. Foto:
Fernando Mendes.
A tônica do 1º dia de viagem, ao longo dos 66 quilômetros percorridos entre Petrópolis (RJ) e Paraíba do Sul (PB), foi o
calor senegalês. O trecho é muito urbano e, por extensão, deveras movimentado.
Dos quatro caminhos que constituem a
Estrada Real, o Caminho Novo, que liga o Rio de Janeiro (RJ) a Ouro Preto (MG)
tem, entre Petrópolis (RJ) e Paraíba do Sul (RJ), 80% do percurso asfaltado.
Foi um pedal bem tranquilo e com
altimetria suave. Mais descidas do que subidas.
Diamantina (MG) a 828 quilômetros.
28/12/2016 | ||
2º dia | Paraíba do Sul (RJ) a Juiz de Fora (MG) | 66 km |
Paraíba do Sul (RJ).
Foto: Fernando Mendes.
Saí de Paraíba do Sul (RJ), a Rainha
das Águas Minerais, às 11h. Àquela hora, com o Sol quase no Zênite (Sol a pino
- 12h), o calor era abrasador.
Os primeiros 25 quilômetros foram em
leito natural e com piso em tom vermelho "marte".
A estrada alterna pedaços bons e
outros nem tanto. Nesse trecho existem muitas chácaras e haras bem
cuidados. Ambiente bucólico regido pelos sons da natureza. Impossível ficar
indiferente.
Estrada Real trecho entre Paraíba do Sul (PB) e Juiz de Fora (MG).
Foto: Fernando Mendes.
Estrada Real trecho entre Paraíba do
Sul (PB) e Juiz de Fora (MG).
Foto: Fernando Mendes.
Estrada Real trecho entre Paraíba do Sul (PB) e Juiz de Fora (MG).
Foto: Fernando Mendes.
Estrada Real trecho entre Paraíba do
Sul (PB) e Juiz de Fora (MG).
Foto: Fernando Mendes.
Pedra do Paraibuna.
Estrada Real trecho entre Paraíba do
Sul (PB) e Juiz de Fora (MG).
Foto: Fernando Mendes.
Às 15h estava no bairro de Monte
Serrat, pertencente ao município de Levy Gasparian (RJ), às margens do Rio
Paraibuna e aos pés da colossal da Pedra do Paraibuna, grande formação rochosa
de granito. É uma das mais belas atrações turísticas e naturais da região.
Segundo dados fornecidos pelo IBGE, a pedra possui aproximadamente 890 metros de altura e, em vão livre, tem imenso paredão vertical, com cerca de 450 metros de altura. Esse monolito é o eterno vigilante da região.
Estrada Real trecho entre Paraíba do
Sul (PB) e Juiz de Fora (MG).
Pedra do Paraibuna. Foto: Fernando Mendes.
Estrada Real trecho entre Paraíba do
Sul (PB) e Juiz de Fora (MG).
Rio Paraibuna.
Foto: Fernando Mendes.
Outro atrativo desse bairro do
município de Levy Gasparian (RJ) é a Igreja Nossa Senhora do Monte Serrat,
inaugurada em 1869 por S.M.I o Senhor D. Pedro II, o segundo e último monarca
do Império, tendo reinado o País ao longo de 58 anos (1831 – 1889).
Somente a Rainha Vitória, rainha do Reino Unido e Irlanda, teve um reinado mais longevo (duradouro) que D. Pedro II: 64 anos no poder, contra 58 anos de Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Bragança - o Magnânimo - e pai das Princesas Isabel e Leopoldina e marido da italiana Teresa Cristina de Bourbon-Duas Sicílias.
Estrada Real trecho entre Paraíba do
Sul (PB) e Juiz de Fora (MG). Igreja Nossa
Senhora do Monte Serrat. Foto: Fernando Mendes.
A partir de Monte Serrat, o Estado do Rio ficou para trás. Atravessei a ponte sobre o Rio Paraibuna. Bem-vinda Minas Gerais, município de Simão Pereira (MG).
Estrada
Real trecho entre Paraíba do Sul (PB) e Juiz de Fora (MG).
Ponte sobre o Rio Paraibuna. Foto: Fernando Mendes.
Após atingir a margem esquerda do
Paraibuna (Minas Gerais), atravessei perpendicularmente a linha férrea da MRS
Logística e, poucos metros à frente - uns 35 talvez -, parei diante do Registro
do Paraibuna, um prédio em ruínas, situado estrategicamente nos limites
naturais entre Rio de Janeiro e Minas Gerais, às margens da Rodovia União e
Indústria, a antiga Rio de Janeiro (RJ) a Juiz de Fora (MG).
Era parada obrigatória para o
recolhimento do Quinto Real, imposto (20%) cobrado pela Coroa Portuguesa, que
incidia sobre o ouro que seguia pela Estrada Real - Caminho Novo -, da antiga
Vila Rica (atual Ouro Preto - MG) para a Corte (Rio de Janeiro).
O Registro do Paraibuna evitava os
descaminhos do ouro nas Minas Setecentistas.
A mãe do Duque de Caxias - Mariana Cândida de Oliveira Belo - nasceu em 29 de abril de 1783, no interior desse prédio, que atualmente está em lamentável estado de conservação.
Estrada Real trecho entre Paraíba do
Sul (PB) e Juiz de Fora (MG).
Registro do Paraibuna. Foto: Fernando Mendes.
Estrada Real trecho entre Paraíba do
Sul (PB) e Juiz de Fora (MG).
Registro do Paraibuna. Foto: Fernando
Mendes.
Almocei, às 16h 37, em Simão Pereira (MG) - 2.947 hab. Censo IBGE 2022 - que fica 7 quilômetros à frente do Registro do Paraibuna.
Às 18h, carimbei o passaporte
em Matias Barbosa (MG) - 14.121 hab.
Censo IBGE 201022 - e cheguei a Juiz
de Fora (MG) - 540.284756 habitantes. Censo IBGE 2022 - junto com o Sol,
que batia em retirada para o oeste e tingia tudo de vermelho, ou de laranja, conforme sua
vontade.
Estrada Real trecho entre Paraíba do
Sul (PB) e Juiz de Fora (MG).
Passagem por Simão Pereira
(MG). Foto: Fernando Mendes.
Hospedei-me no Hotel Pepita,
adjacente à Rodoviária de Juiz de Fora (MG). Estada razoável, embora a
localização do Pepita seja deveras vantajosa àqueles que percorrem o Caminho
Novo rumo a Ouro Preto (MG), pois a estalagem situa-se na Avenida Brasil, a
saída para prosseguimento da viagem no dia seguinte.
Em Juiz de Fora (MG) está localiza a
Usina Hidrelétrica de Marmelos, em operação desde 5 de setembro de 1889. Foi a
primeira unidade de produção de energia elétrica da América do Sul. Atualmente
é administrada pela CEMIG (Cia.
Energética de Minas Gerais).
A iniciativa da construção partiu do industrial mineiro Bernardo Mascarenhas (*) (1847 - 1899), que buscou, por vários anos, uma forma mais moderna e prática de movimentar os teares de sua empresa têxtil e ampliar a produção de tecidos.
Juiz
de Fora (MG). Usina Hidrelétrica de Marmelos. Foto: Fernando Mendes.
(*) Bernardo Mascarenhas (1847 - 1899) foi
um empreendedor brasileiro responsável, entre outros, pela
fundação da Companhia Têxtil Bernardo Mascarenhas e, juntamente
com Francisco Batista de Oliveira, da Companhia Mineira de
Eletricidade e da Usina Hidrelétrica de Marmelos.
Fonte: VAZ, Alisson Mascarenhas. Bernardo
Mascarenhas: desarrumando o arrumado - um homem de negócios do século XIX.
Diamantina
(MG) a 759 quilômetros.
29/12/2016 | ||
3º dia | Juiz de Fora (MG) a Santos Dumont (MG) | 68 km |
A saída de Juiz de Fora (MG) - às 8h 30 - foi demorada: 1 hora e 15 minutos para atravessar o perímetro urbano da maior cidade da Zona da Mata Mineira.
Segui com o Rio Paraibuna à minha
direita e atento às placas que indicam Barreira do Triunfo, bairro no qual é
feito o acesso à BR - 040.
Após deliciosa chávena de café expresso no Graal Sylvios, atravessei a BR - 040 e comecei a pedalar, sobre leito cascalhado, até Ewbank da Câmara (MG) - 3.875 habitantes. Censo IBGE 2022 -, ex-distrito de Santos Dumont (MG). A emancipação aconteceu em 1962.
Estrada Real trecho entre Juiz de
Fora (MG) e Ewbank da Câmara (MG).
Foto: Fernando Mendes.
Estrada Real trecho entre Juiz de
Fora (MG) e Ewbank da Câmara (MG).
Foto: Fernando Mendes.
Estrada Real trecho entre Juiz de
Fora (MG) e Ewbank da Câmara (MG).
Foto: Fernando Mendes.
Estrada Real trecho entre Juiz de
Fora (MG) e Ewbank da Câmara (MG).
Foto: Fernando Mendes.
O caminho entre Juiz de Fora (MG) e
Ewbank da Câmara (MG) é paralelo à linha férrea da MRS Logística,
criada em 1996, quando o governo federal transferiu à iniciativa privada, por
meio de concessão e não privatização (*), a gestão do sistema ferroviário nacional. O vai e
vem de enormes comboios não cessa.
(*) Ferrovias, assim
como portos, aeroporto, rodovias, entre outros, são patrimônios da união e patrimônios
não podem ser privatizados, e sim concedidos à iniciativa privada, por meio de
leilões na Bovespa, por prazos que variam de 25 a 30 anos, prorrogáveis ou não
pelo Governo Federal.
(Nota do Autor).
Estrada Real trecho entre Juiz de
Fora (MG) e Ewbank da Câmara (MG).
Comboio da MRS
Logística, gigantesca e interminável serpente.
Foto: Fernando
Mendes.
Nesse trecho, a Estrada Real atravessa uma região na qual há uma mescla de fazendas leiteiras e haras.
Estrada Real trecho entre Juiz de
Fora (MG) e Ewbank da Câmara (MG).
Foto: Fernando Mendes.
Existem diversas marcações da
Transpetro alertando acerca do Gasoduto subterrâneo que corre paralelo ao
caminho.
Às 12h 35 atravessei a recôndita
(desconhecida) Chapéu d´Uvas, distrito de Juiz de Fora (MG), que abriga a
colossal Represa de Chapéu d´Uvas (*).
(*) Situada a 50 quilômetros da nascente do Rio Paraibuna e a
36 quilômetros de Juiz de Fora (MG), a represa tem 12 km2 de
espelho d’água, 41 m de profundidade e volume de 146 milhões m3.
O lago formado pelo barramento do curso do Rio
Paraibuna tem capacidade para fornecer cinco mil litros de água por segundo.
A obra foi concebida com as finalidades de defender
Juiz de Fora das inundações, regularizar o volume do Rio Paraibuna, permitir
maior aproveitamento das usinas hidrelétricas da Cemig e ser mais uma
fonte de abastecimento de água para a cidade.
Disponível
em:<www.cesama.com.br/mananciais/barragem-de-chapeu-d-uvas-2>. Acesso:
1º/03/2017.
Estrada Real trecho entre Juiz de
Fora (MG) e Ewbank da Câmara (MG).
Represa Chapéu
d´Uvas.
Represa [s.d] foto
color. Disponível
em:<www.cesama.com.br/mananciais/barragem-de-chapeu-d-uvas-2>. Acesso:
1º/03/2017.
Estrada Real trecho entre Juiz de
Fora (MG) e Ewbank da Câmara (MG).
Fotos: Fernando
Mendes.
Estrada Real trecho entre Juiz de
Fora (MG) e Ewbank da Câmara (MG).
Estação Ferroviária inaugurada em 1877. Fotos: Fernando Mendes.
Às 13h 42 estava em Ewbank da Câmara (MG) a
saborear delicioso almoço no Bar e Restaurante Drijair, na área central. O
feijão, um néctar dos deuses. Recomendo.
Estrada
Real trecho entre Ewbank da Câmara (MG). e Santos Dumont (MG).
Foto: Fernando
Mendes.
Devidamente alimentado, voltei à lida
do pedal para cumprir a última etapa daquele 3º dia de viagem: Ewbank da Câmara
(MG) a Santos Dumont (MG).
Trecho deveras cascudo com 20
quilômetros, a maior parte em trilhas apertadas e mescladas às áreas de pastos,
matas e trechos alagadiços. Em certos pontos, a trilha estreita-se à semelhança
do mapa do Chile.
Estrada Real trecho entre Ewbank da
Câmara (MG). e Santos Dumont (MG).
Foto: Fernando
Mendes.
Estrada Real trecho entre Ewbank da
Câmara (MG). e Santos Dumont (MG).
Foto: Fernando
Mendes.
Aos poucos a estrada vai alargando e
a chegada a Santos Dumont (MG) - 42.406 habitantes. Censo IBGE 2022 - foi
tranquila.
O Caminho desemboca na BR - 040, defronte ao Auto Posto 14 Bis. Eram 16h 08.
Chegada
a Santos Dumont (MG). Foto: Fernando Mendes.
Até a área central de Santos Dumont
(MG) basta seguir a Avenida 15 de Fevereiro, que muda Rua Dr. Guilherme de
Castro e depois passa a ser Avenida Presidente Vargas. Ao término, dei de cara
com uma réplica [em miniatura] da Torre Eiffel.
Naquele ponto fica o centro nervoso
da cidade. O Passaporte foi carimbado na Banca do Zezé, Avenida Getúlio Vargas,
Centro.
Hospedei-me na Pousada Villa Dumont.
Excelente estada. Recomendo. Das acomodações ao café da manhã, nota máxima.
Finalizado o 3° dia de viagem.
Faltavam 16 [dias] para chegar a Diamantina (MG).
Fazia 15 anos que a cantora Cássia
Eller partiu para cantar no céu.
Diamantina (MG) a 691 quilômetros.
30/12/2016 | ||
4º dia | Santos Dumont (MG) a Antônio Carlos
(MG) | 56 km |
Início do pedal às 11h. De Santos Dumont (MG) a
Antônio Carlos (MG), percorri 56 quilômetros, o maior trecho do Caminho Novo,
majoritariamente em leito natural e dotado de escassos pontos de apoio.
Os primeiros 14 quilômetros foram pedalados [em asfalto] na Rodovia Federal BR 499, que liga Santos Dumont (MG) à pacata Cabangu (Caa - mata + bangu - escura), local do nascimento de Alberto, o Santos Dumont, em 20 de julho de 1873.
BR - 499.
Estrada Real trecho entre Santos (MG)
a Antonio Carlos (MG). Foto: Fernando Mendes.
No quilômetro oito, abandonei a BR -
499 para conhecer Mantiqueira, um subdistrito de Santos Dumont (MG), cortado
pela linha férrea da MRS Logística
A localidade é muito pequena e nada
de restaurante ou similar que oferecesse uma refeição, àquela hora, bastante
desejada.
A estação ferroviária, construída em tijolos, está em ruínas, a mesma ruína que se encontra a malha
ferroviária do País.
Tirei algumas fotos e até fiz [celular]
um vídeo registrando a passagem de um comboio da MRS Logística.
Estação Mantiqueira.
Estrada Real trecho entre Santos (MG)
a Antonio Carlos (MG).
Foto: Fernando Mendes.
E com o estômago clamando por
víveres, voltei à BR 499 e percorri os 6,9 quilômetros finais [em asfalto] até
Cabangu, localidade na qual está o Museu Casa Natal de Santos Dumont [1], ou o Museu de Cabangu, numa área de
365 mil m², que guarda espelhos d’água, cascatas, quiosques, jardins, arvoredos
e passarelas.
[1] Alberto Santos Dumont não foi o inventor do avião. (Construção mitológica).
Existem ao menos documentos provando que os irmãos Wright
construíram aviões muito antes de Santos Dumont. [...]
A
distância do principal voo do 14 – Bis foi 180 vezes menor que a do
voo mais longo dos Wright em 1905.
Um
ano antes de Santos Dumont criar o 14 – Bis, os irmãos americanos voaram
cerca de cinquenta vezes, percorrendo uma distância de 39,5 quilômetros de uma
só vez. [...]
Em
silêncio e secretamente Santos Dumont deve ter percebido a verdade dolorosa:
o 14 – Bis não voava. No máximo, dava uns pulinhos.
Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil
/ Leandro Narloch, São Paulo: Leya, 2011, pp 251 e 255.
É nesse cenário que está preservada,
e aberta ao público, a casa na qual nasceu Alberto Santos Dumont (1873 – 1932),
que [também] não foi o inventor do relógio de pulso,[2] como muitos
acreditam. Outra construção mitológica.
[2] O Brasileiro [Santos Dumont] certamente contribuiu
para o relógio de pulso voltar à moda, mas a invenção do aparelho é de muito
antes.
Relógios
assim eram comuns desde os tempos de Shakespeare – a rainha Elizabeth I (1533 –
1603) tinha um.
Em
1868, a empresa Patewk Philippe reinventou a peça, que também foi usada por
militares nos campos de batalha do século XIX, como na Guerra Franco –
Prussiana.
Guia
Politicamente Incorreto da História do Brasil / Leandro Narloch, São Paulo:
Leya, 2011, p.252.
Com o benefício que a distância no tempo outorga à
historiografia, o ato de ser presenteado com um relógio de pulso
foi modificado para o fato de ser o inventor do relógio de pulso. A necessidade de se ter um herói (?) nacional, associada a mal contada
História do Brasil, materializam o surgimento de criações mitológicas.
Lamentável. (Nota do Autor) |
"Narrativas bem diferentes daquelas registradas, pela historiografia ufanista, na maioria dos livros didáticos, nos quais a versão é mais importante do que a realidade".
"E
assim vem sendo construído um País mais imaginário do que real".
Fonte: Gomes, Laurentino em 1822 : como um homem
sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D. Pedro I
a criar o Brasil – um país que tinha tudo para dar errado / Laurentino Gomes –
Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 2010, p. 107.
Estação Cabangu
(MG).
Estrada Real trecho entre Santos (MG) a Antônio Carlos (MG). Foto: Fernando Mendes.
Casa Natal de Santos Dumont. Fotos:
Fernando Mendes.
Estrada Real trecho entre Santos (MG)
a Antônio Carlos (MG).
A lanchonete do Museu Casa Natal de
Santos Dumont estava fechada. Dancei no almoço.
A Serra da Mantiqueira apareceu com seu esplendor, numa sucessão de cabeços (cume convexo e arredondado), à semelhança de ondas imóveis. Não foi possível delimitar o final.
Quando a cota do caminho chegou próximo dos 1.000 metros de altitude, as araucárias começaram a dar o tom na paisagem.
Estrada Real trecho entre Santos (MG)
a Antônio Carlos (MG).
Fotos: Fernando Mendes.
Estrada Real trecho entre Santos (MG)
a Antônio Carlos (MG).
Fotos: Fernando Mendes.
Estrada Real trecho entre Santos (MG)
a Antônio Carlos (MG).
Fotos: Fernando
Mendes.
Estrada Real trecho entre Santos (MG)
a Antônio Carlos (MG).
Fotos: Fernando
Mendes.
A natureza impera com os sons da passarada, das cachoeiras e dos bovinos soltos pelo caminho a mastigar, incessantemente, nacos de grama. Tudo à minha volta era um verde quieto.
Estrada Real trecho entre Santos (MG)
a Antônio Carlos (MG).
Fotos: Fernando
Mendes.
Não existem pontos de apoio ao longo
do trecho Cabangu a Antônio Carlos (MG), exceto um povoado, do qual não me
lembro o nome, onde consegui fazer a única refeição do dia: Cebolitos com
Guaraná.
Àquela altura dos acontecimentos, não podia me dar ao luxo de recusar “finas iguarias".
Estrada Real trecho entre Santos (MG)
a Antônio Carlos (MG).
Fotos: Fernando
Mendes.
Às 15h 30 voltei à Estrada Real e à lida no pedal para encarar o trecho mais cascudo daquele 30/12/20216: subir a Serra do Trovão.
Estrada Real trecho entre Santos (MG)
a Antônio Carlos (MG).
Fotos: Fernando Mendes.
Estrada Real trecho entre Santos (MG)
a Antônio Carlos (MG).
Fotos: Fernando
Mendes.
Serra do
Trovão. Estrada Real trecho entre Santos (MG)
a Antônio Carlos (MG).
Foto: Fernando Mendes.
O tempo mudou rapidamente. Nuvens
altas e escuras, conhecidas por cumulonimbus [em latim] e
acumulado de nuvens [em português], estavam na minha vertical, ou seja, sobre
minha cabeça. Chegaram com vontade e a chuva não se fez esperar.
Os cumulonimbus (Cb´s),
animados por fortes correntes ascendentes, haviam se transformado em montanhas
com alturas consideráveis (uns 4 quilômetros ou pouco mais).
Rapidamente a base do Cb desceu. As
centelhas elétricas limitaram-se a iluminar o interior dos cumulonimbus,
retumbando na distância.
Tempestade espetacular, há muito
esperada, após dias de uma canícula avassaladora, desabou sobre mim,
arrefecendo a fornalha daquele penúltimo dia do Ano da Graça de 2016.
Foi quando lembrei de uma passagem do
Romance “Equador”, de Miguel Sousa Tavares, natural do Porto, Portugal, no qual
o protagonista [Luís Bernardo Valença] descreve a primeira chuva que
testemunhou, em 1906, ao aportar em São Tomé e Príncipe, duas ilhotas
portuguesas à deriva no Atlântico, à latitude do equador:
“uma
tampa gigante abriu-se no céu logo acima de minha cabeça e, de repente, foi
como se um dique se tivesse rompido. Uma chuva de pingos grossos, como bagos de
uva, desabou em cascata solta, apagando todos os outros sons e os últimos
sinais do Sol a morrer no horizonte”. p. 144.
Em meio a raios e trovões, subi os
quatro quilômetros da Serra [do Trovão], sem maiores dificuldades e calçada com
pedras dispostas de forma irregular. Impossível usar equipamento fotográfico em
meio àquele dilúvio.
E a chuva começou a ceder. As
centelhas se espaçaram e se tornaram distantes.
Estrada Real trecho entre Santos (MG)
a Anônio Carlos (MG).
Fotos: Fernando
Mendes.
Estrada Real trecho entre Santos (MG)
a Antônio Carlos (MG).
Fotos: Fernando
Mendes.
Cheguei à pacata Antônio Carlos (MG) - 11.095 habitantes. Censo IBGE 2022 - às 19h.
Chegada à pacata
Antônio Carlos (MG). Foto: Fernando Mendes.
Hospedagem
na Pousada Coliseu onde encontrei com quatro ciclistas de Vitória da Conquista
(BA).
O
grupo percorria o Caminho Novo na direção contrária à minha: estavam indo
de Ouro Preto (MG) para o Rio de Janeiro (RJ).
A
conversa fluiu fácil e o jantar, depois de um dia sem almoço, estava uma
maravilha.
Diamantina (MG) a 635 quilômetros.
31/12/2016 | ||
5º dia | Antônio Carlos (MG) a Ressaquinha (MG) | 41 km |
Foto: Fernando Mendes.
Estrada Real trecho entre Antonio
Carlos (MG) e Ressaquinha (MG).
Foto: Fernando Mendes. Câmera no
timer.
Às 10h começou o pedal do
tricentésimo sexagésimo sexto - 366º - dia do Ano da Graça de 2016, ano
bissexto.
Giro tranquilo, à exceção da
travessia da cidade de Barbacena (MG), - 125.317 hab. Censo 2022 -, com trânsito frenético e todos parecendo
apressados por conta do último dia do ano.
Inexistem marcos da Estrada Real ao
longo do perímetro urbano. O jeito foi perguntar aos nativos.
E de pergunta em pergunta, cheguei ao
bairro Santo Antônio, depois de subir uma ladeira das arábias. Do alto foi
possível ver, ao fundo da paisagem, a BR - 040.
Uma descida, igualmente das arábias, me levou, por meio de um bairro periférico e com asfalto esburacado, até a Lanchonete Roselanches, localizada às margens da BR - 040, km 697.
Disponível
em:<https://www.google.com.br/maps.
Acesso: 1º/03/2017 (com
adaptações).
Feijoada deliciosa no almoço, reforço
no fôlego para encarar os trechos seguintes: Barbacena (MG) - Alfredo
Vasconcelos MG) - Ressaquinha (MG), com parcos 28 quilômetros e altimetria
mesclando descensos e ascensos suaves.
"Ninguém
consegue ser subversivo após uma feijoada".
Barbosa
Lima Sobrinho.
Os
haras flanqueiam a Estrada Real em ambos os lados. As formações da Mantiqueira
são percebidas no visual e sentidas nas suaves subidas e descidas.
Etapa idílica aos sons da natureza.
Bem diferente dos ruídos urbanos e ensurdecedores de Barbacena (MG).
Estrada Real entre
Barbacena (MG) e Ressaquinha (MG).
Foto: Fernando Mendes.
Estrada Real entre
Barbacena (MG) e Ressaquinha (MG).
Foto: Fernando
Mendes.
Às 15h 14, pedalava placidamente pela
incógnita Alfredo Vasconcelos (MG) - 6.931 habitantes. Censo IBGE 2022, elevada à categoria de
município após ser desmembrada de Ressaquinha (MG).
Parada rápida para reposição de água e fotos da Igreja Nossa Senhora do Rosário do Ribeirão de Alberto Dias (século XVIII - concluída em 1725). Duas torres no frontispício e cemitério na parte de trás.
Estrada Real entre
Barbacena (MG) e Ressaquinha (MG).
Igreja Nossa Senhora
do Rosário do Ribeirão de Alberto Dias.
Foto: Fernando Mendes.
Estrada Real entre
Barbacena (MG) e Ressaquinha (MG).
Igreja Nossa Senhora
do Rosário do Ribeirão de Alberto Dias.
Foto: Fernando
Mendes.
A chegada a Ressaquinha (MG) - 4.548 habitantes. Censo 2022 - foi tranquila e o último marco daquele trecho da Estrada Real fica em frente ao Empório da Empada, que oferece muitas opções dessa iguaria.
Estrada Real entre
Barbacena (MG) e Ressaquinha (MG).
Foto: Fernando Mendes.
Estrada Real entre
Barbacena (MG) e Ressaquinha (MG).
Foto: Fernando Mendes.
Estrada Real entre
Barbacena (MG) e Ressaquinha (MG).
Foto: Fernando Mendes.
Estrada Real entre
Barbacena (MG) e Ressaquinha (MG).
Foto: Fernando Mendes.
Ressaquinha
(MG). Paróquia de São José, construída em 1939.
Foto: Fernando Mendes.
A cidade é transpassada pela BR-040 e
o ponto alto é a Paróquia de São José, construída em 1939.
As pinturas da igreja são de autoria do Padre
Joseph Buttgens, influenciado pela arte hindu. Esse mesmo padre pintou a
Catedral de Nova Déli, na Índia.
Ressaquinha (MG). Paróquia de São José, construída em 1939. Foto: Fernando Mendes.
Ressaquinha (MG). Paróquia de
São José, construída em 1939. Foto: Fernando Mendes.
Dirigi-me à Pousada Estrada Real para
pernoite. A proprietária me informou que o estabelecimento se encontrava
fechado, pois a família estava de partida para comemorar a passagem do ano em Juiz
de Fora (MG).
O jeito foi me hospedar num hotel
"zero estrela", localizado no andar acima do Empório da Empada,
defronte à BR - 040.
Faltavam poucas horas para o
encerramento daquele 31 de dezembro do Ano da Graça de 2016 (ou 2769 A.U.C).
A.U.C, expressão em latim (ab Urbe Condita),
significa "desde a fundação de Roma", ocorrida supostamente em 753
a.C. Portanto 753 a.C + 2016 d.C = 2769
A.U.C. (Nota do Autor). |
E da varanda, defronte à antiga BR -
3, assisti, à meia-noite, à tímida queima de fogos. Mesmo não me sentindo
cansado, adormeci rapidamente.
Antes de 1964, o trecho entre Rio de
Janeiro e Belo Horizonte era denominado BR-3.
Viajar está entre as coisas que mais
amo nesta vida. Se vivi muitas vidas, creio que passei a maioria delas
viajando.
Diamantina (MG) a 594 quilômetros.
01/01/2017 | ||
6º dia | Ressaquinha (MG) a Queluzito (MG) | 62 km |
1ª foto de
2017.
Estrada Real entre
Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG).
Pedalei os primeiros 62 quilômetros de 2017 - entre Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG) - atravessando paisagens belíssimas. Viagem iniciada às 9h 30.
Estrada Real entre
Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG).
A Estrada Real passa
sob a BR -040. Foto: Fernando Mendes.
Nos primeiros 30 quilômetros até
Carandaí (MG), girei por altitudes que variaram entre 1.050 e 1.200 m.
A estrada é larga e o solo bem
compactado. Pareceu-me que ninguém quis sair de casa no primeiro dia do [novo]
ano.
Estrada Real entre
Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG).
Foto: Fernando Mendes.
Estrada Real entre
Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG).
Foto: Fernando
Mendes.
Estrada Real entre
Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG).
Foto: Fernando Mendes.
Estrada Real entre
Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG).
Fotos: Fernando
Mendes.
Caminhos vazios, imperava absoluto,
pedalando entre fazendas leiteiras e plantações de eucaliptos. Explorava os
arredores e respirava a tragos ar tão delicioso.
Somente as aves, seus piares e uma leve brisa me prestavam atenção, todavia não muita. Que deleite.
Estrada Real entre Ressaquinha
(MG) e Queluzito (MG).
Fotos: Fernando Mendes.
Às 12h 30 pedalava pelo asfalto gasto e irregular
nas cercanias de Carandaí (MG) - 23.044812 habitantes. Censo 2022).
Almocei na Cantina Mineira enquanto assistia à Escolinha do Professor Raimundo. Refeição saborosa e farta. Fica a dica.
Depois do repasto e sob canícula
saariana, tomei a direção da saída da cidade pela Rua Professor Camargo até a
esquina [virar à direita] com a Alameda Germano Nogueira,
"desaguando" na BR - 040.
Atravessei-a e segui na direção BH
por 1,3 quilômetro até alcançar o Posto de Pesagem e Fiscalização da ANTT, que
fica no km 664.
Passados talvez uns 25 metros da
placa de fundo azul, com a informação "KM 664", virei à direita,
conforme indica um marco da Estrada Real - bem visível -, fincado ao lado de uma
parada de ônibus.
A partir daquele ponto, o caminho se eleva em relação à BR-040, a ex-BR - 3.
.
Estrada Real entre
Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG).
Fotos: Fernando Mendes.
Estrada Real entre
Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG).
Fotos: Fernando
Mendes.
Segui paralelamente à BR - 040, por
caminho que se elevou e permitiu, lá do alto, - pelo menos a mim - concluir que
a rodovia [BR -040] -, em muitos trechos, foi construída sobre partes do leito
do Caminho Novo da Estrada Real.
Teorias à parte, o percurso Carandaí (MG) a Queluzito (MG) mescla estradão e trilhas, que passam por várias fazendas. Haja abre e fecha de porteiras.
Estrada Real entre
Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG).
Fotos: Fernando Mendes.
Estrada Real entre Ressaquinha
(MG) e Queluzito (MG).
Fotos: Fernando
Mendes.
Muito gado solto pelo caminho que
atravessei, sempre acompanhado por bandos de maritacas barulhentas, felizes à
luz de uma tarde com céu rutilante.
E ao fundo desse cenário, o esplendor da Mantiqueira, com suas rochas graníticas refletindo a luz do Sol.
Estrada Real entre
Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG).
Fotos: Fernando Mendes.
Estrada Real entre
Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG).
Fotos: Fernando Mendes.
Estrada Real entre
Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG).
Fotos: Fernando
Mendes.
Estrada Real entre
Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG).
Fotos: Fernando Mendes.
Estrada Real entre
Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG).
Fotos: Fernando
Mendes.
Estrada Real entre
Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG). Fotos: Fernando Mendes.
Em Pedra do Sino, distrito de Carandaí (MG), alcançada às 15h 37, e onde se localiza a fábrica do Cimento Tupi, a Estrada Real intercepta ortogonalmente (ângulo de 90º) a BR 040. Atravessei-a, rumando para Queluzito (MG), 25 quilômetros à frente.
Fábrica do Cimento
Tupi em Pedra do Sino.
Estrada Real entre Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG). Fotos: Fernando Mendes.
A altimetria, até então suave,
começou a mostrar-se severa com um trecho de trilha bastante técnico e inclinado
[para cima].
O primeiro pedal do ano foi sem precedentes, quando falo de Estrada Real.
Estrada Real entre Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG). Fotos: Fernando Mendes.
Estrada Real entre Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG). Fotos: Fernando Mendes.
Estrada Real entre Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG). Fotos: Fernando Mendes.
Estrada Real entre Ressaquinha (MG) e Queluzito (MG). Fotos: Fernando Mendes.
Cheguei a Queluzito (MG) - 1.770 habitantes. Censo 2022 - vendo o Sol obliquamente e batendo em retirada na direção oeste.
Chegada a Queluzito
(MG). Foto:
Fernando Mendes.
A Lua Nova - terceiro dia -
posicionada uns 45º acima do poente, deu-me as boas-vindas, lembrando o sorriso
do gato da Alice no País das Maravilhas. Dia maravilhoso e pedal aos sons da
natureza.
Era o primeiro dia do ano de 2017.
Dia de posse dos prefeitos eleitos e reeleitos no pleito de 2016.
Queluzito (MG) tem apenas dois hotéis e ambos
estavam lotados. Felizmente o proprietário de um deles (esqueci os nomes de um
e de outro), com muita boa vontade, arrumou um quarto na parte de trás e minha
noite foi salva.
Foi questão de saber esperar, como
quase tudo na vida. Do contrário, teria feito como Bruno & Marrone:
dormiria na praça.
E foi assim que passei, na recôndita
Queluzito (MG), a primeira noite do Ano da Graça de 2017.
Diamantina (MG) a 532 quilômetros.
02/01/2017 | ||
7º dia | Queluzito (MG) a Ouro Branco (MG) | 44 km |
O trecho Queluzito (MG) a Ouro Branco
(MG) é curto [45 quilômetros] e quase todo asfaltado.
Início da transição da Serra da
Mantiqueira para a Serra do Espinhaço. A altimetria tornou-se cascuda e
encardida.
À medida que Queluzito (MG) ficava para trás, as subidas foram mostrando a cara. O ponto alto do dia ficou por conta da travessia de uma área de reflorestamento com eucaliptos, sombreada e maravilhosa.
Estrada Real entre Queluzito (MG) e Ouro Branco (MG). Fotos: Fernando Mendes.
Estrada Real entre Queluzito (MG)
e Ouro Branco (MG). Fotos: Fernando
Mendes.
O restante da etapa aconteceu em pedaços fortemente urbanizados, como a travessia de Conselheiro Lafaiete (MG) - 131.621 habitantes. Censo IBGE 2022 -, com trânsito intenso e tumultuado, à semelhança dos grandes núcleos urbanos da Índia.
Chegada a Conselheiro Lafaiete (MG). Foto: Fernando Mendes.
Entre Lafaiete (MG) e Ouro Branco
(MG), a Estrada Real é sobreposta à Rodovia MG - 129, com traçado que apresenta
um sobe e desce agitado. Bem-vinda Serra do Espinhaço (*).
(*) considerada a única cordilheira do
Brasil, a Serra do Espinhaço tem aproximadamente 1.000 quilômetros de extensão,
parte em Minas Gerais e parte na Bahia.
Possui
o maior afloramento de calcário do País, jazidas de ouro, ferro, bauxita e
manganês. Estima-se que sua idade geológica seja de 2,5 bilhões de anos.
Funciona
como divisor de águas. A leste, todos os rios tendem ao Atlântico, enquanto que
a oeste inflam o sistema hídrico do São Francisco.
A
largura da Serra do Espinhaço varia de 50 a 100 quilômetros. Vales e picos são
interpostos, configurando um terreno bastante acidentado.
É
Reserva da Biosfera, contém muitas áreas de proteção e outras de preservação,
além de reservas particulares.
Fonte: Brasília-Paraty,
somando pernas para dividir impressões.
Weimar Pettengil – Brasília – Editora
Thesaurus, p.90.
Chegada a Ouro
Branco (MG). Foto: Fernando Mendes.
No acesso a Ouro Branco (MG) - 38.724 habitantes. Censo IBGE
2022 - localiza-se uma casa, em estilo colonial, a Fazenda
Carreira (*),
na qual Tiradentes, em suas perambulações pela região, ocasião na qual apregoava
a necessidade de a Capitania de Minas Gerais [e não o Brasil] se livrar das
garras domínio colonial português, usava-a para pernoite.
Como muitos dos monumentos
históricos, de um país sem memória histórica, essa casa encontra-se abandonada.
Lamentável.
(*) A fazenda teria sido ponto
de pouso e local de abastecimento.
Diz-se
que Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, se hospedou
ali antes de sua prisão, daí uma de suas alcunhas “Casa Velha de
Tiradentes";
outra
versão afirma que o local era posto de arrecadação de impostos;
a
denominação teria se originado das “carreiras” que os tropeiros davam nos
animais para testar a sua força e resistência.
Disponível
em:<www.iepha.mg.gov.br/index.php/programas-e-acoes/patrimonio-cultural-protegido/bens-tombados/details/1/12/bens-tombados-fazenda-carreiras>. Acesso: 1º/03/2017 (com adaptações).
Fazenda Carreira.
Foto: Fernando Mendes.
Tombada
pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais
(IEPHA/MG), em setembro de 2000, Carreiras [a Fazenda] foi construída,
provavelmente, na segunda metade do século XVIII, por volta de 1775.
Localizada
às margens do Caminho Novo da Estrada Real, entre Ouro Branco (MG) e
Conselheiro Lafaiete (MG), trecho de grande circulação de pessoas e bens
durante o período conhecido como Ciclo do Ouro em Minas Gerais.
Destinada
à criação de gado e à agricultura, integrava o povoado de mesmo nome, descrito
por viajantes do século XIX como uma região miserável e perigosa, provavelmente
pelo período de decadência pelo qual Ouro Branco (MG) passou após o declínio da
mineração.
Outra
serventia da fazenda: local de criação, de venda e troca de cavalos, para
aqueles que faziam a viagem da Corte (Rio de Janeiro) a Vila Rica, atual Ouro
Preto (MG).
É conhecida como Fazenda Tiradentes ou Casa Velha de Tiradentes, pois passível de se crer que o Inconfidente teria pernoitado ali durante uma viagem de São João Del Rei a Vila Rica, em 1788.
Disponível em:<www.iepha.mg.gov.br/index.php/programas-e-acoes/patrimonio-cultural-protegido/bens-tombados/details/1/12/bens-tombados-fazenda-carreiras>. Acesso: 1º/03/2017.
Fazenda Carreira. Foto: Fernando Mendes. |
Igreja Matriz de Santo Antônio de Ouro Branco. Fotos: Fernando Mendes.
Igreja Matriz de
Santo Antônio de Ouro Branco.
"De acordo com um registro no Livro nº 1
da Irmandade, a Matriz é anterior a 1717, ano de emissão de uma
certidão do primeiro casamento que teria ocorrido na Igreja Matriz
de Santo Antônio de Ouro Branco.
A
parte exterior da Matriz traz as influências da reforma introduzida
por Aleijadinho, estilo característico de Minas Gerais".
Disponível
em:<https://www.ourobranco.mg.gov.br/detalhe-da-materia/info/matriz-de-santo-antonio---centro/6542>. Acesso:
1º/03/2017.
Ouro Branco (MG).
A Cruz de Penitência ou
Martírio. Foto: Fernando Mendes.
A
Cruz de Penitência ou Martírio - Simboliza o triunfo de Jesus Cristo sobre a
morte e traz todos os objetos que revelam sua penitência e seu sofrimento.
Disponível em:<https://emfrol1.wixsite.com/ourobranco/histricos>.
Acesso: 31/05/2022
Diamantina (MG) a 488 quilômetros.
03/01/2017 | ||
8º dia | Ouro Branco (MG) a Ouro Preto (MG) | 32 km |
O script do dia:
distância curta [30 quilômetros], subidas longas, inclinadas e trecho 100%
asfaltado, percorrido na Rodovia Estadual MG -129.
A Estrada corta a RPPN Serra de Ouro Branco (Reserva Particular do Patrimônio Natural) e a altimetria é muito acidentada, à semelhança de uma Montanha Russa gigante.
Na saída de Ouro Branco (MG) (assim
chamavam o ouro ainda não bem formado), um aclive de três quilômetros me levou
a 1.560 m de altitude. Depois, descida animal me fez descer a 1.100 m.
E assim, nesse incessante sobe e
desce, sempre paralelamente à Serra do Itatiaia, um subgrupo da Serra do
Espinhaço, percorri o trajeto entre Ouro Branco (MG) e Ouro Preto (MG) - 74.821 habitantes. Censo IBGE -
2022.
Estrada Real trecho
Ouro Branco (MG) a Ouro Preto (MG). Fotos: Fernando Mendes.
Serra do Itatiaia.
Subgrupo do Espinhaço.
Estrada Real trecho Ouro Branco (MG) a Ouro Preto (MG). Fotos: Fernando Mendes.
Estrada Real trecho
Ouro Branco (MG) a Ouro Preto (MG).
Rodovia MG -
129. Fotos: Fernando Mendes.
Cheguei à antiga Vila Rica (*) a tempo de retirar, no Centro de Informações Turísticas, o certificado de execução do Caminho Novo da Estrada Real e degustar uma chávena de café expresso.
Diamantina (MG) a 456
quilômetros.
(*) Vila Rica de Albuquerque e depois
Vila Rica de Nossa Senhora do Pilar de Ouro Preto. Em 1823, após a
Independência do Brasil, Vila Rica, fundada em 1711, recebeu o título de
Imperial Cidade, conferido por S.M Imperial D. Pedro I do Brasil, tornando-se
oficialmente capital da então província das Minas Gerais e passando a ser
designada como Imperial Cidade de Ouro Preto.
Em 1897, a mudança da capital para
Belo Horizonte (MG) provocou um esvaziamento da cidade (aproximadamente 45 % da
população), inibindo o crescimento urbano nas décadas seguintes, fato que
contribuiu para preservação do seu Centro Histórico.
Disponível em:<https://www.ouropreto.mg.gov.br/historia>.
Acesso: 1º/03/2017 (com adaptações).
A descrição da chegada a Vila Rica e
de seu cotidiano é baseada em um texto do comerciante inglês John Luccock, que
a visitou em 1817. Ei-la.
Ao
ver o povoado [Vila Rica], um viajante da época [do Ciclo
do Ouro] achou-o "muito sedutor", mas não deixou de notar que
ele [o povoado] parecia estar encravado em um dos piores
lugares da Terra para se erguer uma cidade.
De
fato, aquela sequência de morros na colossal Serra do Espinhaço, a 1.100 metros
de altitude, não era o melhor sítio para assentar um núcleo urbano com mais de
2 mil casas grudadas umas às outras, uma dúzia de igrejas corpulentas e alguns
prédios públicos de grande porte. O "amor pelo ouro", contudo, venceu
a lógica e fez florescer no interior do Brasil um centro urbano vigoroso.
A vila [Rica] abrigava [1817] 79
mil "almas" (excluindo-se os indígenas), o equivalente a 2,3% da
população da colônia.
Apesar de estar a quatrocentos quilômetros do porto
marítimo mais próximo, em uma área de difícil acesso e coalhada de bandidos
violentos e índios bravios, a comarca de Vila Rica tinha mais habitantes que as
cidades do Rio de Janeiro (39 mil) e Salvador (menos de 46 mil). Era quase duas
vezes e meia maior que Nova York (33 mil habitantes), a cidade mais populosa
dos Estados Unidos.
E,
com menos de cem anos de existência, tinha o equivalente a 15% dos moradores de
Paris, cuja história somava, por baixo, vinte séculos.
Fonte: O Tiradentes : Uma biografia de Joaquim José da Silva Xavier / Lucas Figueiredo - 1ª ed. - São Paulo : Companhia das Letras, 2018, pp. 33-34.
Chegada a Ouro Preto (MG). Foto: Fernando Mendes.
Diamantina (MG) a 456 quilômetros.
Praça Tiradentes. Ouro Preto (MG).
Na Praça do Mercado, atual Praça Tiradentes em Ouro Preto (MG),
funcionava um dos principais mercados de escravos do Brasil, onde homens e
mulheres jovens, juntamente com crianças, eram os produtos cobiçados.
Dependendo do biótipo - indivíduos que apresentam o mesmo genótipo - e das habilidades, chegavam a ser disputados numa espécie de leilão a céu aberto.
Fonte: Ibañez, Alexandre. Marília de Dirceu : a musa, a inconfidência e a vida privada em Ouro Preto no século XVIII / Alexandre Ibañez, Staël Gontijo - Belo Horizonte : Gutenberg Editora, 2012, p. 51.
Museu da Inconfidência. Ouro Preto (MG).
Museu da Inconfidência. Ouro Preto (MG).
Igreja do Carmo. Ouro Preto (MG).
Ouro Preto (MG).
Ouro Preto (MG). Rua Cláudio Manoel da Costa.
Ouro Preto (MG).
Frontispício da Igreja do Carmo. Ouro Preto (MG).
Pico do Itacolomi, o Farol dos Bandeirantes. Ouro Preto (MG).
Igreja São Francisco de Assis. Ouro Preto (MG).
Ouro Preto (MG). Fotos: Fernando Mendes.
2ª ETAPA | ||||
CAMINHO
DO SABARABUÇU - 202 km | ||||
OURO PRETO (MG) A COCAIS (MG) | ||||
DATA | CAMINHO
DO SABARABUÇU | KM /DIA | TOTAL/ DIA | ∑ |
04/01/2017 | OURO PRETO (MG) A ACURUÍ (MG) | 59 km | 59 km | 59 km |
05/01/2017 | ACURUÍ
(MG) A RIO ACIMA (MG) | 24 km | 59 km | 118 km |
RIO
ACIMA (MG) A HONÓRIO BICALHO (MG) | 10 km | |||
HONÓRIO
BICALHO (MG) A RAPOSOS (MG) | 13 km | |||
RAPOSOS
(MG) a SABARÁ (MG) | 12 km | |||
06/01/2017 | SABARÁ (MG) A CAETÉ (MG) | 44 km | 44 km | 162 km |
07/01/2017 | DESCANSO
EM CAETÉ (MG) | |||
08/01/2017 | CAETÉ (MG) A COCAIS (MG) | 40 km | 40 km | 202 km |
04/01/2017 |
|||
9°
dia |
Ouro
Preto (MG) a São Bartolomeu (MG) |
20
km |
59
km |
São
Bartolomeu (MG) a Glaura (MG) |
15
km |
||
Glaura
(MG) a Acuruí (MG) |
24
km |
Dia de muito calor, subidas honestas, sombreamento
à larga pelo caminho e paisagens lindas marcaram os 59 quilômetros da etapa
Ouro Preto (MG) a Acuruí (MG).
Até São Bartolomeu, distrito de Ouro
Preto (MG), a estrada empina fortemente para cima nos primeiros quilômetros e a
Antiga Vila Rica foi ficando pequena, lá embaixo, dentro de um buraco.
Vencida essa parede, caminho é largo e com muitas sombras. Esse trecho termina no simpático e bucólico distrito de São
Bartolomeu, "acanhada joia barroca do século XVIII”. (*)
(*) Instituto Estrada Real em
www.institutoestradareal.com.br/cidades/sao-bartolomeu/143>.Acesso:
1º/03/2017.
Estrada Real trecho
Ouro Preto (MG) a Acuruí (MG). Foto: Fernando Mendes.
Igreja Matriz de Nossa Senhora das
Mercês em São Bartolomeu (MG).
Estrada Real trecho Ouro Preto (MG) a Acuruí (MG). Foto: Fernando Mendes.
Igreja Matriz de Nossa Senhora das Mercês em São Bartolomeu (MG).
Estrada Real trecho Ouro Preto (MG) a Acuruí (MG). Foto: Fernando Mendes.
Nessa acanhada joia, o tempo parece ter preguiça de
passar. A Igreja Matriz de Nossa Senhora das Mercês é uma das mais antigas e
imponentes de Minas Gerais.
Lugar modesto e ruas com calçamento
de pedras. Gente simples e receptiva, sempre fazendo perguntas sobre a minha
viagem.
A fartura de frutas na cidade induziu seus moradores à fabricação de doces caseiros, tradição reconhecida nas adjacências. O ponto alto é a Festa da Goiaba (doce mais popular da localidade).
São Bartolomeu (MG).
Estrada Real trecho Ouro Preto (MG) a
Acuruí (MG). Foto: Fernando Mendes.
Tomei delicioso açaí e parti rumo a
Glaura, antiga Freguesia Santo Antônio da Casa Branca do Ouro Preto, outro
Distrito (*) de Ouro Preto, igualmente simpático e bucólico, com ruas calcadas
e casas bem arrumadas.
Na saída [de Glaura] para Acuruí, distrito de Itabirito (MG), uma chuva forte veio amenizar o calor. E veio com força, muitos raios, trovões e granizo. Plec, plec e plec no capacete. Primeira chuva do ano. Durou pouco, mas foi suficiente para refrescar e levar os restos de 2016.
(*) DISTRITOS DE OURO PRETO (MG). |
Disponível em:<https://pt.wikipedia.org/wiki/Portal: Minas_Gerais> Acesso: 1º/03/2017. |
Estrada Real trecho Ouro Preto (MG) a Acuruí (MG).
Igreja Matriz de Santo Antônio das
Garças Brancas em Glaura (MG).
Foto: Fernando Mendes.
Estrada Real trecho Ouro Preto (MG) a Acuruí (MG).
Igreja Matriz de Santo Antônio das
Garças Brancas em Glaura (MG).
Foto: Fernando Mendes.
Uma ascensão absurda de 200 metros,
nos quatro quilômetros finais para chegar ao distrito de Itabirito, nomeado de Acuruí (MG) - 500 habitantes. Carece de fonte, deu-me a dimensão do que é o
Caminho do Sabarabuçu. As paisagens que vi compensaram o esforço.
Diamantina (MG) a 406 quilômetros.
05/01/2017 |
|||
10°
dia |
Acuruí
(MG) a Rio Acima (MG) |
25
km |
59
km |
Honório
Bicalho (MG) a Raposos (MG) |
10
km |
||
Raposos
(MG) a Sabará (MG) |
24
km |
Rio Acima (MG).
Estrada Real trecho Acuruí (MG) a
Sabará (MG). Foto:
Fernando Mendes.
Após o 3°morro que subi, parei de
contá-los e passei a bebericar as belezas do caminho. Nada de eucaliptos. Mata
nativa preservada, garantia de frondosas sombras necessárias num dia tão
quente.
Almocei em Rio Acima (MG), carimbei o
passaporte e encarei o trecho [13 quilômetros], até Honório Bicalho, distrito
de Nova Lima (MG) - 111.697 habitantes.
Censo IBGE 2022 - localidade
muito carente, com casinhas inacabadas e tijolos expostos, dando a dimensão do
ocorrido: a grana não foi suficiente para o acabamento. Assim estão as casas,
dispostas ao longo da única rua asfaltada.
Inicialmente, o distrito de Honório
Bicalho se chamava Faria Garcez. O nome atual deriva de uma estação ferroviária
construída em 1890, cujo nome, Honório Bicalho, foi uma homenagem ao engenheiro
que participou da construção de obras públicas em portos e ferrovias
brasileiras, sendo chefe na construção da Estrada de Ferro D. Pedro II.
Disponível
em: https://www.caminhoreligiosodaestradareal.com/honorio-bicalho-mg/. Acesso:
01/03/2017.
Fui obrigado a seguir para Raposos (MG) - (16.279 habitantes. Censo IBGE 2022) -
pela Rodovia Estadual MG - 030 em virtude de aquele trecho da Estrada Real, que
liga Honório Bicalho (MG) a Raposos (MG), estar interditado. Apenas 10
quilômetros. Fácil.
Na última etapa do dia - Raposos a
Sabará - a Estrada Real corre paralela ao Rio das Velhas e sobre antigo leito
ferroviário da falecida RFFSA. São 12 quilômetros de total planura. Nada mal
depois de um dia de subidas insanas, aquela que o ciclista chora e a mãe não
vê.
Diamantina (MG) a 347 quilômetros.
Estrada Real trecho Acuruí (MG) a Sabará (MG).
Antigo leito ferroviário paralelo ao Rio das Velhas. Foto: Fernando Mendes.
Estrada Real trecho Acuruí (MG) a
Sabará (MG).
Antigo leito ferroviário paralelo ao
Rio das Velhas. Foto:
Fernando Mendes.
06/01/2017 | ||
11º dia | Sabará (MG) a Caeté (MG) | 44 km |
Antes de partir para Caeté (MG), uma
visita à bicicletaria em Sabará (MG) - 129.380 habitantes. Censo IBGE 2022 - para substituir as
pastilhas dos freios dianteiro e traseiro.
Encerrada a manutenção na bike,
carimbar o passaporte no Hotel Vila Real. Lá chegando, fui seduzido por
delicioso aroma de feijoada. Eram 12h. Decidi partir somente após degustar essa
iguaria. Sábia decisão. Melhor sair bem alimentado.
O trecho entre Sabará (MG) e Morro
Vermelho [18 quilômetros], Distrito de Caeté (MG), é deslumbrante. Altimetria
bem plana em estrada de terra larga, igual à Ponte Rio - Niterói.
Solo bem compactado e muita sombra.
Em vários trechos, a Estrada Real passa sob enormes pontes da Ferrovia da Vale
do Rio Doce.
Ponte da Ferrovia da Ferrovia da Vale do Rio Doce. Foto: Fernando Mendes.
Estrada Real trecho Sabará (MG)
a Caeté (MG).
Ponte da Ferrovia da Estrada de Ferro
Vale do Rio Doce.
Na chegada a Morro Vermelho, o
destaque fica por conta da Igreja de Nossa Senhora de Nazaré (século XVIII).
Um temporal se anunciou, mas ficou na
ameaça. A partir daquele ponto, a Estrada Real empina forte para
cima. Passei a pedalar em altitudes que variam de 1.100 a 1.200 m.
Abaixo, os trilhos da Ferrovia da Vale
serpenteiam o Espinhaço, à semelhança de um ferromodelismo.
Igreja de Nossa
Senhora de Nazaré (século XVIII). Fotos: Fernando Mendes.
Igreja de Nossa
Senhora de Nazaré (século XVIII).
Fotos: Fernando
Mendes.
Não tardou para Caeté (MG) - 38.776 habitantes. Censo IBGE 2022 - aparecer
dentro de um enorme buraco, como é a localização de muitas cidades ao longo da
Estrada Real.
Cheguei ao centro às 18h, quando os
sinos da Igreja Matriz de Bom Sucesso (século XVIII) choravam no ar a hora do
Ângelus.
Igreja Matriz de Bom Sucesso (século XVIII) em
Caeté (MG).
Foto: Fernando
Mendes.
Segundo dia de Lua Crescente, o
símbolo das bandeiras de alguns países muçulmanos.
A cada etapa cumprida da viagem, a
certeza de que está sendo a mais maravilhosa das jornadas que fiz
pedalando pela Estrada Real e seus quatro caminhos.
Diamantina (MG) a 303 quilômetros.
07/01/2017. Não rolou pedal. |
|
12° dia |
Ao acordar, senti que o corpo pedia
repouso. |
08/01/2017 | ||
13º dia | Caeté (MG) a Cocais (MG) | 40 km |
Após a saída de Caeté (MG) fui
contornando a Serra da Piedade até o extremo leste, quando o caminho tomou o
rumo de Cocais, Distrito de Barão de Cocais (MG) e a Piedade foi ficando para
trás, diminuindo de tamanho, vista pelo retrovisor da bike.
A transparência e luminosidade
daquele dia, permitiram divisar a Piedade com suas magníficas rochas de
formações ferríferas e pertencentes ao subgrupo Minas/Itabirito.
Bandos de papagaios e maritacas voavam sobre mim, alegrando a tórrida manhã com seus trinos (gorjeios) e evoluções.
Estrada Real entre
Caeté (MG) e Cocais (MG).
Ao fundo, a Serra da
Piedade. Foto: Fernando Mendes.
Estrada Real entre Caeté (MG) e Cocais (MG). Foto: Fernando Mendes.
Estrada Real entre
Caeté (MG) e Cocais (MG). Foto: Fernando Mendes.
Estrada Real entre Caeté (MG) e Cocais (MG). Foto: Fernando Mendes.
A origem e o significado da palavra Caeté provem da língua indígena e quer dizer: - mata virgem, mato verdadeiro, segundo Teodoro Sampaio, citado por Nelson de Sena em seu Anuário Histórico e Cartográfico de Minas Gerais, edição de 1909, página 282.
Quando o Sol atingiu o Zênite, ou
seja, ao meio-dia, alcancei Antônio dos Santos, Distrito de Caeté (MG). Parada
para almoço. Fazia muito calor. Segui os 20 quilômetros finais, boa parte
deles, pedalando numa área aberta com pouca sombra e muito silêncio. Um cenário
para contemplação e reverências.
Ironicamente, a parte mais difícil do
trajeto - acredite se quiser - foi um descenso com 200 metros de extensão. Impossível descer aquela ladeira nas condições descritas e
montado na bike.
Isto porque têm muitas valas feitas
pelo escoamento superficial das águas das chuvas, além de pedras soltas, que dificultam o
equilíbrio. O enredo: morro abaixo, desembarcado da bike. Nem sempre as subidas
são as vilãs ao longo dos trajetos.
Chegada a Cocais, Distrito de Barão de Cocais
(MG).
Fotos: Fernando Mendes.
Cocais
(MG). Foto: Fernando Mendes.
Cheguei a Cocais (MG) - 2.803 habitantes. Censo IBGE 2010 - às 17h. Concluí o Caminho do Sabarabuçu, 2ª etapa das três que planejei percorrer pela Estrada Real. Difícil afirmar qual delas [etapas] é a mais bela.
Antes de deitar-me, lembrei-me da área de
reflorestamento de eucaliptos a atravessar no dia seguinte. Num átimo (momento,
instante), veio-me à memória os seringais de Fordlândia (PA) [3] [4],
a cidade americana edificada na margem direita do Rio Tapajós, na Amazônia
Brasileira, no Estado do Pará, quase à latitude do Equador.
[3] A
história de Fordlândia (PA) começou em 1927, quando Henry Ford (1863 -1947)
adquiriu um terreno de quase 15.000 km², o dobro da área do atual Distrito
Federal, na margem direita do Rio Tapajós, no Estado do Pará.
Anos antes, o departamento de comércio dos
Estados Unidos da América (EUA) havia feito um estudo de viabilidade de cultivo
de seringueiras no Brasil com resultados positivos.
Sabendo
disso, o produtor rural Jorge Dumont Villares, conseguiu com o governador [do
Pará] Dionísio Bentes a concessão de uma grande porção de terra para cultivar
seringueiras. Tudo de graça.
Quando
soube que Henry Ford procurava uma região para sua cidade no Brasil, Villares
ofereceu suas terras a ele por um valor equivalente a quase R$ 3 milhões
atuais.
No
ano seguinte [1928], ele [Ford] enviou suprimentos e funcionários para criar
uma típica cidade americana no local. Em pouco tempo ficou pronta, com escolas,
eletricidade, saneamento, clube social/recreativo e um hospital (no qual foi
feito o primeiro transplante de pele no Brasil).
Disponível
em:<www.flatout.com.br/fordlandia-a-historia-da-cidade-utopica-que-henry-ford-construiu-na-amazonia
Acesso: 31/03/2017.
[4] Ao fundar
Fordlândia (PA), em 1928, no coração da Floresta Amazônica, na margem direita
do Rio Tapajós, Henry Ford, o magnata do automóvel, plantou seringueiras
simetricamente, a exemplo das plantações de eucaliptos de hoje, na tentativa
de aumentar a produtividade de borracha, que alimentaria a incessante demanda
dessa matéria-prima em sua fábrica de automóveis em Michigan (EUA). No entanto, uma infestação nos seringais
brasileiros, desconhecida nos seringais britânicos do Sudeste Asiático,
dizimou as seringueiras e sepultou a aventura americana nos Trópicos, na
cidade [Fordlândia - PA] que Henry Ford edificou quase à latitude do Equador. Em 1945, os americanos finalmente fizeram as malas e foram para casa,
deixando um Elefante Branco para trás. Embora nunca tenha ido a Fordlândia, Henry Ford investiu uma fortuna
em seu sonho e não logrou o êxito esperado. (Nota do Autor). |
A Cidade Fantasma de Fordlândia (PA).
Fordlândia foto [s.d] color.
Disponível em:<
https://misteriosdomundo.org/conheca-a-historia-da-fordlandia-o-utopico-sonho-de-henry-ford-no-brasil/>.
Acesso: 1º/03/2017.
Diamantina (MG) a 263 quilômetros.
3ª ETAPA CAMINHO DOS DIAMANTES - 263 km | ||||
COCAIS
(MG) A DIAMANTINA (MG) | ||||
DATA | TRECHOS | KM | TOTAL DIA | ∑ |
09/01/2017 | Cocais
(MG) a Bom Jesus do Amparo (MG) | 26 | 26 | 26 |
10/01/2017 | Bom Jesus do Amparo (MG) a Ipoema (MG) | 13 | 43 | 69 |
Ipoema (MG) a Nossa Senhora do Carmo (MG) | 14 | |||
Nossa Sr.ª do Carmo (MG) a Itambé do Mato Dentro (MG) | 16 | |||
11/01/2017 | Itambé
do Mato Dentro (MG) a Morro do Pilar (MG) | 34 | 103 | |
12/01/2017 | Morro do Pilar (MG) a Conceição do Mato Dentro (MG) | 25 | 128 | |
13/01/2017 | Conceição
do Mato Dentro (MG) a Itapanhoacanga (MG) | 47 | 175 | |
14/01/2017 | Itapanhoacanga (MG) ao Serro (MG) | 26 | 201 | |
15/01/2017 | Serro
(MG) a São Gonçalo do Rio das Pedras (MG) | 29 | 230 | |
16/01/2017 | São Gonçalo do Rio das Pedras (MG) a Diamantina (MG) | 33 | 263 |
09/01/2017 |
||
14º dia |
Cocais (MG) a Bom Jesus do Amparo (MG) |
26 km |
Acordei
tarde, pois o trecho daquele dia foi diminuto, com parcos 26 quilômetros,
metade atravessando magnífica área de reflorestamento de eucaliptos.
Ao terminar a travessia [dos
eucaliptos], a Estrada Real desemboca na Rodovia BR-262, que liga Belo
Horizonte (MG) a Vitória (ES).
Almocei num posto BR, atravessei a
262 e continuei pela Estrada Real - leito natural - até Bom Jesus do Amparo (MG) - 5.631 habitantes. Censo
IBGE 2022).
Encontrei com meu grande amigo [e
Xará] Fernando Gonçalves. A conversa, como de hábito, fluiu fácil. A bike foi
lavada e lubrificada.
Diamantina (MG) a 237 quilômetros.
Estrada Real trecho
Cocais (MG) a Bom Jesus do Amparo (MG).
Foto: Fernando Mendes.
Estrada Real trecho
Cocais (MG) a Bom Jesus do Amparo (MG).
Foto: Fernando Mendes.
Matriz de Bom Jesus
do Amparo (MG).
Foto: Fernando Mendes.
Meu amigo e Xará,
Fernando Gonçalves.
Foto: Fernando
Mendes.
Bom Jesus do Amparo-MG, 09/01/2017.
Esse pedala e conhece muitos lugares! Digo, conhece a realidade muito
mais que os dados dos livros e pesquisas. Suas férias têm sempre um rolezinho
de bike. Nesta cicloviagem, o roteiro está bem diferente. Com o passaporte em mão, ele começou a percorrer o Caminho Novo,
partindo de Petrópolis (RJ) e chegou a Ouro Preto (MG). Na segunda etapa, pedalou de Glaura, distrito de Ouro Preto (MG), a
Cocais, distrito de Barão de Cocais (MG), concluindo o Caminho do Sabarabuçu
(193 km), que vai margeando a majestosa Serra da Piedade, na região de Caeté
(MG). Que lugar lindo, não é mesmo? Como ele havia feito o Caminho dos Diamantes, de Diamantina (MG) a
Ouro Preto (MG), duas vezes, iniciou a terceira etapa no Distrito de Cocais
(MG) e nos deu a honra pousando novamente em Bom Jesus do Amparo (MG), a
"terra sagrada, terno querido, berço natal" do músico e violonista
Mozart Bicalho. Como dizem os versos do hino oficial da cidade composição do próprio
autor. É o primeiro ciclista que retorna depois de concluir os quatro
caminhos da nossa Estrada Real. Bem-vindo! Encontramo-nos em frente à Matriz,
nossa referência e cartão postal do lugar. Continua o mesmo, cheio de histórias e experiências reais para
compartilhar com a gente. Demos uma passada na pequena Bike Dias, colocando a conversa em dia,
tive acesso ao certificado especial de conclusão dos caminhos reais (que é
muito bonito), fizemos check-in no KR Hotel, localizado
praça central, e nos sentamos na lanchonete Café do Dia, para tomarmos uma geladíssima
cerveja, pois a tarde quente e a ocasião mereciam. Um brinde ao seu entusiasmo e seus pedais Fernando!!! Você realmente é
um dos caras! Mais tarde, ele deixou sua mensagem e nome registrados no Livro dos
Viajantes da ER n° 06, carimbei seu passaporte e lhe entreguei uma mensagem
para levar para o Norte. Gratidão sempre! Parecia que nossa conversa não tinha um tempo de dois anos. Muito
legal! No dia seguinte, registramos mais fotos na praça e nos despedimos como
sempre, de forma cordial, deixando um pouco dele e levando um pouco daqui. O pouso do dia seria - como de fato foi - em Itambé do Mato Dentro (MG) e havia sol e calor,
muitos morros e pedaladas para vencer, totalizando, daqui a alguns dias, a
marca de 894 quilômetros, ao chegar a Diamantina (MG). "Viajar pela Estrada Real é prova cabal de FELICIDADE!"
Palavras de um ciclista que tenho a honra de conhecer. Ótima viagem, amigo! Obrigado por tudo! Abraço Real. Fernando Gonçalves. |
Diamantina (MG) a 237 quilômetros.
10/01/2017 | ||
15º dia | Bom Jesus do Amparo (MG) a Itambé do Mato Dentro (MG) | 43 km |
Os primeiros 13 quilômetros até Ipoema (MG) - distrito de Itabira (MG) - foram feitos em asfalto novo e altimetria com muitos sobe e desce.
Almocei em Ipoema (MG) - 2.746 habitantes, sendo 1.374 homens e
1.372 mulheres. Censo IBGE 2010 -, distrito de Itabira (MG).
Fiz a química digestiva revendo a Igreja de Nossa Senhora da Conceição. O Museu do Tropeiro, infelizmente, estava fechado, pois era horário de almoço.
Estrada
Real entre Bom Jesus do Amparo (MG) e Itambé do Mato Dentro (MG).
Foto: Fernando Mendes.
Museu do Tropeiro em
Ipoema (MG).
Estrada Real entre Bom Jesus do
Amparo (MG) e Itambé do Mato Dentro (MG). Foto: Fernando Mendes.
Igreja de Nossa
Senhora da Conceição.
Estrada Real entre Bom Jesus do
Amparo (MG) e Itambé do Mato Dentro (MG). Foto: Fernando Mendes.
O trecho a seguir, com 15 quilômetros
até o Distrito de Senhora do Carmo, pertencente a Itabira (MG), foi percorrido
em leito natural, com subidas generosas e calor egípcio. Em Senhora do Carmo,
parada para degustar deliciosos pastéis de queijo. Não tinha Coca; encarei
guaraná genérico.
Qual não foi a minha surpresa quando
a funcionária da lanchonete me informou que a etapa entre Senhora do Carmo (MG)
a Itambé do Mato Dentro (MG) - 15 quilômetros - está asfaltada. Maravilha.
Com a falta de chuvas mais robustas,
os trechos em leito natural estão muito empoeirados. A última etapa do dia foi
feita em asfalto novo e farto em subidas
Cheguei a Itambé do Mato Dentro (MG)
- 2.142 habitantes. Censo IBGE 2022 -, depois de pedalar 43 quilômetros desde a
saída de Bom Jesus do Amparo (MG), junto com a chuva [muito fraca] de fim de
tarde.
A última vez que estive por essas
paragens foi em junho de 2014. Naquele ano, preferi a Estrada Real à Copa do
Mundo, ou melhor, ao vexaminoso 7 x 1.
Diamantina a 194 quilômetros.
Estrada Real entre Bom Jesus do
Amparo (MG) e Itambé do Mato Dentro (MG).
Foto: Fernando Mendes.
11/01/2017 |
||
16º dia |
Itambé do Mato Dentro (MG) a Morro do Pilar (MG) |
34 km |
Atravessei 34 quilômetros sem qualquer tipo de apoio. Nem bar, nem povoados, restaurantes ou comunidades. Eis a maior dificuldade desse trecho da Estrada Real.
Na saída de Itambé do Mato Dentro (MG) um problema na fixação do alforje direito, porém solucionado rapidamente.
Estrada Real entre Itambé do Mato
Dentro (MG) e Morro do Pilar (MG).
Igreja Nossa Senhora das Oliveiras.
Itambé do Mato Dentro (MG).
Foto: Fernando Mendes.
Estrada Real entre Itambé do Mato
Dentro (MG) e Morro do Pilar (MG).
Foto: Fernando
Mendes.
Após o fim do calçamento e início do
trecho em leito natural, veio uma subida de respeito, com 10 quilômetros de
extensão e poucos intervalos planos. Essa é a tônica da maioria das cidades ao
longo da Estrada Real.
Foram nascendo sempre na parte baixa
do relevo para facilitar a captação de água. Na chegada, muitas descidas; na
saída, subidas honestas. E mantendo a "tradição”, na saída de Itambé do
Mato Dentro (MG), tome subida pela proa.
Após o décimo quilômetro, a Estrada
Real passa por enormes rochas sedimentares dispostas de forma aleatória às
margens do caminho. São imponentes e belas. Daí a origem do nome Itambé -
pedra afiada na língua tupi.
Estrada Real entre Itambé do Mato
Dentro (MG) e Morro do Pilar (MG).
Foto: Fernando
Mendes.
Estrada Real entre Itambé do Mato
Dentro (MG) e Morro do Pilar (MG).
Foto: Fernando
Mendes.
Do alto da Serra, a 900 m de
altitude, senti o mundo aos meus pés. Que paisagem maravilhosa. Ao fundo, o
colosso e a imponência das formações da Serra do Cipó. Subi numa das rochas e,
num "estacionário" perfeito, fiquei a ver esse mar de montanhas.
Desse ponto em diante, a Estrada Real inclina fortemente para baixo, dando um refresco para pernas e pulmões. E desce, desce até chegar ao Vale do Rio do Peixe, com piscinas naturais e águas cristalinas.
Estrada Real entre Itambé do Mato
Dentro (MG) e Morro do Pilar (MG).
Foto: Fernando
Mendes.
Estrada Real entre Itambé do Mato
Dentro (MG) e Morro do Pilar (MG).
Foto: Fernando
Mendes.
Tamar - nome hebreu das palmeiras - introduzidas na Estrada Real entre Itambé do Mato Dentro (MG) e Morro do Pilar (MG). Foto: Fernando Mendes.
Rio do Peixe.
Estrada Real entre Itambé do Mato
Dentro (MG) e Morro do Pilar (MG).
Foto:
Fernando Mendes.
Cheguei
à pacata Morro do Pilar (MG) - 3.133 habitantes. Censo IBGE 2022 - às
18h, na Hora do Ângelus e com chuva se avizinhando.
A Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar não tem estilo próprio, apesar de a cidade ter sido importante ponto de apoio às tropas que seguiam para Paraty, levando, em alforjes presos às mulas, o ouro extraído em Vila Rica, atual Ouro Preto (MG).
Morro do Pilar (MG).
Igreja Nossa Senhora do Pilar. Foto: Fernando Mendes.
Morro do Pilar (MG).
Igreja Nossa Senhora
do Pilar. Foto: Fernando Mendes.
O arraial (Gaspar Soares) que deu origem à cidade
surgiu no alto de um morro, onde o bandeirante paulista Gaspar Soares encontrou
ouro, em 1701. Ali, construiu uma capela dedicada à Nossa Senhora do Pilar.
Há
registros de um desmoronamento em 1743, que teria matado 18 escravos e
interrompido as atividades mineradoras.
Morro do Pilar (MG) abrigou o primeiro alto-forno siderúrgico do Brasil, na Fábrica de Ferro Gusa do Brasil - a Real Fábrica de Ferro de Morro do Pilar - que em 1814 conseguiu fazer a primeira corrida de ferro no alto forno.
A pioneira fábrica funcionou, em
regime de produção, mais ou menos regular, de 1814 até cerca de 1830, época em
que encerrou suas atividades, de acordo
com Carneiro de Mendonça em seu livro "O
Intendente Câmara".
Pelos mais variados interesses, a produção de ferro
gusa foi transferida para a vizinha Itabira (MG), terra natal do poeta Carlos
Drummond de Andrade. E assim, Morro do Pilar (MG) parou no tempo e mantém um ar
bucólico e preguiçoso até hoje. Hospedei-me na Pousada Indaiá. Recomendo.
Diamantina (MG) a 160 quilômetros.
12/01/2017 | ||
17º dia | Morro do Pilar (MG) a Conceição do Mato Dentro (MG) | 25 km |
Apesar da pequena quilometragem do dia - 27 quilômetros -, o calor foi intenso, tanto quanto a altimetria. Sabendo que a etapa não conta com apoio, a exemplo de ontem, decidi partir após o almoço.
O passaporte foi carimbado numa loja
- pasmem - que serve café expresso. Tomei 500 ml de açaí e, após, deliciosa
chávena contendo preciosa iguaria à base de cafeína.
Deixei Morro do Pilar às 14h 30, sob
Sol escaldante e rumei para Conceição
do Mato Dentro (MG) - 23.163 habitantes. Censo IBGE 2022).
Com 15 minutos de pedal, trovoadas e
vento forte. Prenúncio de chuva que, infelizmente, ficou na promessa.
O trecho é muito bonito. O Espinhaço
mostra suas formações sem nenhum pudor.
Na 1/2 do caminho encontrei o Cássio,
ciclista Potiguar, que estava percorrendo a Estrada Real de Diamantina (MG) a
Paraty (RJ). Ficamos um tempo conversados, passei umas informações, nos
despedimos e segui meu rumo.
A três quilômetros da chegada a
Conceição do Mato Dentro (MG), a Estrada Real desemboca na Rodovia MG - 010,
que vem de Belo Horizonte (MG) e, após descida alucinante, cheguei ao downtown local.
Eram 18h 30.
Aproveitei o que restava de luz
natural e fui à Igreja do Bom Jesus de Matozinhos, uma das mais belas da
Estrada Real, embora não seja em estilo barroco.
Diamantina (MG) a 135 quilômetros.
Conceição do Mato
Dentro (MG).
Santuário do Senhor
Bom Jesus de Matozinhos. Foto: Fernando Mendes.
Em 1931, encontrava-se em péssimo estado de
conservação e foi demolida e substituída por uma construção moderna.
Edificação recente, sem ter um significado
artístico - arquitetônico, o atual Santuário do Senhor Bom Jesus de Matozinhos
merece menção por ser centro de romaria, que se realiza anualmente pelas festas
do Jubileu, entre 14 e 24 de junho, desde os tempos coloniais.
A decisão de construir a igreja foi tomada pela
irmandade em reunião no dia 14 de março de 1931.
O lançamento da pedra fundamental ocorreu em 8 de
novembro do mesmo ano. O projeto é de autoria do arquiteto Mario Moreira.
As linhas arquitetônicas são bastante ecléticas,
variando do mourisco ao neogótico.
A entronização da imagem do Bom Jesus no Santuário
se deu a 12 de maio de 1934.
Acesso: 1º/03/2017.
13/01/2017 |
||
18º dia |
Conceição do Mato Dentro (MG) a Itapanhoacanga (MG) |
47 km |
Na saída de Conceição do Mato Dentro (MG) choveu muito forte.
Foi uma delícia pedalar sob forte aguaceiro, que arrefeceu o calor demencial,
sentido desde a saída de Petrópolis (RJ), há 18 dias, quando a aventura teve
início.
Choveu até a parada para o almoço,
que aconteceu no pequeno Distrito de Córregos - 432 habitantes, sendo 246 homens e 186 mulheres – Censo IBGE 2010 - fundado
há 308 anos e pertencente à jurisdição de Conceição do Mato Dentro (MG).
O ponto alto em Córregos é a Igreja Matriz de Nossa
Senhora de Aparecida.
Presume-se
que a sua construção ocorreu entre os anos de 1745 e 1748.
Porém,
na fachada estão gravadas, em cima da porta, as datas de 1872 e 1994.
Possivelmente,
é uma referência às reconstruções que ocorreram na igreja.
Durante
muitos anos esquecido e abandonado, o órgão da Igreja Matriz de Nossa Senhora
Aparecida, ressurge para nos revelar segredos, informações históricas e
de organaria (fabricação,
conservação ou a reparação de órgãos) até então
ignoradas.
Disponível em:< http://cmd.mg.gov.br/distritos/corregos/igreja-matriz-de-nossa-senhora-aparecida-de-corregos>.
Acesso: 1º/03/2017.
Estrada Real entre Conceição do Mato Dentro (MG) e
Itapanhoacanga (MG).
Igreja Matriz de
Nossa Senhora de Aparecida em Córregos (MG).
Foto: Fernando
Mendes.
Fundado por bandeirantes em 1702, o
Distrito de Córregos pertenceu ao Serro (MG) até o ano de 1851, passando a ser
distrito de Conceição do Mato Dentro (MG).
Situado em um vale de difícil acesso,
no início de sua formação, foi núcleo de mineração de ouro e diamantes.
Córregos ou Nossa Senhora Aparecida
de Córregos tem seu casario tipicamente colonial, distribuído em uma pequena
praça e algumas ruas. São casas térreas e poucos sobrados, simples e antigos.
Almoço simples e pedal girando, agora
sem chuva, até chegar à pacata e simpática Santo Antônio do Norte - 662 habitantes, sendo 347 homens e 315 mulheres,
Censo IBGE 2010 – que abriga a charmosa Igreja do Rosário.
A localidade mantém a beleza paisagística de seu sítio e preserva, em decorrência da estagnação econômica, suas características do período colonial.
Santo Antônio do Norte é distrito de Conceição do Mato Dentro (MG).
Estrada Real entre Conceição do Mato
Dentro (MG) e Itapanhoacanga (MG).
Tapera (MG). Foto: Fernando Mendes.
Estrada Real entre Conceição do Mato
Dentro (MG) e Itapanhoacanga (MG).
Igreja do Rosário.
Foto: Fernando Mendes.
Tapera, como também é conhecida, tem
apenas uma rua. Quem ali conseguir a façanha de se perder, ganhará um prêmio.
Com o passaporte carimbado, toquei em
frente, ou melhor, toquei para cima, pois a última etapa inclui subir a
vertente Sul da Serra da Escadinha, [quatro quilômetros] e depois descer a
vertente Norte [oito quilômetros] para chegar a recôndita (desconhecida)
Itapanhoacanga, distrito de Alvorada de Minas (MG).
Quando atingi o alto da serra,
senti-me no topo do mundo. Escalada que rendeu belas fotos.
Desci rapidamente e cheguei à recôndita (desconhecida) Itapanhoacanga (MG) - 1.700
habitantes - Censo IBGE 2010, localidade com o nome mais estranho
encontrado ao longo dessa imensa estrada chamada Real.
Itapanhoacanga (Ita = pedra. Tapanhuna = negra. Acanga = cabeça). Ou seja: pedra cabeça de negro. A localidade é distrito de Alvorada de Minas (MG).
Estrada Real entre Conceição do Mato
Dentro (MG) e Itapanhoacanga (MG).
Serra da Escadinha. Fotos: Fernando Mendes.
Estrada Real entre Conceição do Mato
Dentro (MG) e Itapanhoacanga (MG).
Serra da
Escadinha. Fotos: Fernando Mendes.
Itapanhoacanga fica encravada em um
vale muito profundo e cercada pela Serra do Espinhaço, que recebe denominações
locais de Serra do São José ou Serra da Escadinha.
Ao longo do Caminho dos Diamantes –
trecho compreendido entre Diamantina (MG) e Ouro Preto (MG) -, o Espinhaço
recebe diversas nomenclaturas dadas pela população nativa.
Existem monumentos religiosos e ricas
manifestações culturais.
O pequeno vilarejo é símbolo da época
em que esse diminuto distrito, na porção central de Minas Gerais, era o mais
rico garimpo de ouro do Serro Frio (arraial que deu origem à cidade do
Serro-MG).
Diamantina (MG) a 88 quilômetros.
Itapanhoacanga (MG).
Igreja de São José. Foto: Fernando Mendes.
A reforma da Igreja de São José (edificação barroca
construída entre 1746 e 1787) está emperrada há 17 anos.
Aguarda a liberação de verba. A situação é
tão precária que as imagens e peças sacras foram retiradas e levadas para um
local mais seguro.
Disponível
em http://pt.slideshare.net/AndrSchetino/estrada-real-23863559>. Acesso:
1º/03/2017.
14/01/2017 | ||
19º dia | Itapanhoacanga (MG) ao Serro (MG) | 26 km |
Deixei Itapanhoacanga pouco antes das 11h e rumei na direção de
Alvorada de Minas (MG), que teve sua ocupação com o início da mineração do ouro
no Rio do Peixe, a partir de 1712.
Estrada
Real entre Conceição do Mato Dentro (MG) e Itapanhoacanga (MG).
Foto: Fernando Mendes.
Estrada
Real entre Conceição do Mato Dentro (MG) e Itapanhoacanga (MG).
Foto: Fernando Mendes.
Estrada
Real entre Conceição do Mato Dentro (MG) e Itapanhoacanga (MG).
Igreja de Santo Antonio em Alvorada de Minas
(MG).
Em Alvorada de Minas (MG) - 4.159 habitantes. Censo IBGE 2022 - carimbei passaporte, bati uma tigela de açaí na padoca e fui encarar as subidas
honestas até o (*) Serro
(MG), com a Estrada Real asfaltada nesse trecho (18 quilômetros).
Cheguei ao Serro (MG) - 21.952 habitantes. Censo IBGE 2022 - no
momento de um apagão duradouro.
Sem energia elétrica, a cerveja do jantar desceu quente. Mas a refeição estava uma delícia. Pouco antes da meia-noite a energia foi restabelecida. Impossível dormir sem ar-condicionado.
(*) O nome da região, dado pelos
índios, era Ivituruí (ivi = vento, turi = morro, huí = frio) na língua
tupi-guarani.
Daí derivou Serro Frio, atual
Serro (MG), uma das mais belas e antigas cidades históricas de Minas Gerais.
Serro é nome de queijo e queijo é sinônimo de
Serro.
A cidade se orgulha de produzir o mais saboroso e
conhecido produto mineiro: o famoso "Queijo do Serro" artesanal, tipo
Minas.
No estado ele é conhecido também como "queijo
minas" (não é curado nem frescal).
O motivo do diferenciado sabor, comparável aos
melhores do mundo, ou ainda não está devidamente explicado, ou está guardado a
sete chaves.
Os
antigos o creditavam ao capim gordura, excelente pastagem nativa da região,
hoje quase desaparecida.
Como
permaneceu a mesma qualidade, atualmente alguns apontam a composição do solo
(terreno calcário e úmido) e o clima, como os responsáveis pelo delicado
sabor.
Disponível
em:<www.serro.mg.gov.br/portal/turismo/0/9/758/queijo-do-serro>. Acesso:
1º/03/2017.
Serro (MG). Fotos:
Fernando Mendes.
Serro (MG). Fotos: Fernando Mendes.
Igreja de Santa Rita. Serro (MG). Foto: Fernando Mendes.
Diamantina (MG) a 62 quilômetros.
15/01/2017 | ||
20º dia | Serro (MG) a São Gonçalo do Rio das Pedras (MG) | 29 km |
A tão esperada chuva chegou e me acompanhou pelo percurso, quase todo feito em asfalto. Na saída do Serro (MG), parada para degustar açaí e tomar delicioso expresso.
Atravessei a ponte sobre o Rio do Peixe, após subida honesta de quatro quilômetros. Almocei assistindo Escolinha do Professor Raimundo, no Distrito de Três Barras, que fica às margens do Rio Jequitinhonha e abriga a charmosa Igreja de São Geraldo (*).
Diamantina (MG) a 62 quilômetros.
(*) Templo modesto, mas que se destaca entre o
rarefeito casario local.
A fachada é bastante singela, com torre única e
central salientada pela cobertura em telhado de quatro águas, numa feição
tipicamente mineira.
Embora
sem nada que a distingue especialmente, a Capela de São Geraldo, comove
pelo despojamento e simplicidade. Ocupa
o lugar, com arquitetura tipicamente mineira.
Ressalta
as características dos tempos coloniais, destacando-se pela simplicidade de seu
contorno em tom azul, pela torre central única e por seu telhado de quatro águas
com conjunto arquitetônico e natural.
A
modesta capela de São Geraldo registra a religiosidade do povo do distrito.
Disponível em:< https://www.serro.mg.gov.br/portal/noticias/0/9/747/tres-barras>. Acesso: 1º/03/2017.
Córregos (MG).
Igreja de São
Geraldo. Foto: Fernando Mendes.
A chuva apertou e logo passei por
Milho Verde, também Distrito do Serro (MG) e lugar de pousadas e cachoeiras em
profusão.
Foto: Fernando
Mendes.
Capela do Rosário em Milho Verde
(MG). Foto: Fernando
Mendes.
Essa remota localidade abriga a
minúscula (*) Capela do Rosário, que ficou conhecida ao
sair no encarte do LP “Caçador de Mim”, de Milton Nascimento, lançado pela
Gravadora Ariola, em 1981.
(*) Capela de Nossa Senhora do Rosário
de Milho Verde (MG).
Foto: Fernando
Mendes.
(*) Partindo da constatação de que há pouca
documentação sobre a Capela de Nossa Senhora do Rosário de Milho Verde (MG), o
autor do artigo foi surpreendido com o dado - confirmado por muitos moradores
antigos da localidade - de que a construção não data do século XIX, como
criaram muitos especialistas, mas sim da década de 1950.
Essa constatação originou uma reflexão sobre a
"autenticidade" do edifício, que, diferentemente de muitas
construções da mesma época no interior brasileiro, não possuem absolutamente
nada de "kitsch".
Uma possível explicação para esse fato é o total
isolamento em que se encontrava Milho Verde na década de 1950, não sendo
servida a localidade por luz elétrica, portanto, não compartilhando das
informações da indústria cultural e, por isso, com um alto grau de
"imunização" em relação ao "kitsch" por ela difundido.
Kitsch:
substantivo com origem no alemão que descreve uma coisa com mau gosto (âmbito
da estética).
Conteúdo
criado para apelar ao gosto popular.
<
www.serro.mg.gov.br/portal/noticias/0/9/748/Milho-Verde>.
Acesso: 1º/03/2017.
Em Milho Verde (MG) - 2 mil habitantes - carimbei passaporte na Pousada do Moraes e pedalei bem tranquilo os sete quilômetros finais, chegando, às 19h, a São Gonçalo do Rio das Pedras, distrito do Serro (MG), que conta com diminuta população de 1.479 habitantes - IBGE 2010.
Fui rever o Sr. Ademil e colocar a conversa em dia.
Sr. Ademil é proprietário da Pousada
Fundo de Quintal e do empório (foto) que leva seu nome.
Sujeito boa praça e profundo
conhecedor da Estrada Real.
A exemplo de
Fernando Gonçalves - meu xará e morador em Bom Jesus do Amparo (MG)
-, Sr. Ademil é outra lenda da Estrada Real.
Largo Félix Antônio.
São Gonçalo do Rio das Pedras (MG).
Foto: Fernando
Mendes.
Há três semanas, iniciei a jornada em
Petrópolis (RJ). Sensação de ter saído ontem.
Diamantina (MG) a 32 quilômetros.
São Gonçalo do Rio
das Pedras (MG).
Foto: Fernando Mendes.
São Gonçalo do Rio
das Pedras (MG).
Foto: Fernando Mendes.
Igreja Matriz São
Gonçalo do Rio da Pedras (MG).
Foto: Fernando
Mendes.
Igreja Matriz São
Gonçalo do Rio da Pedras (MG).
Foto: Fernando Mendes.
Igreja Matriz São
Gonçalo do Rio da Pedras (MG).
Foto: Fernando
Mendes.
São Gonçalo do Rio
da Pedras (MG).
Foto: Fernando Mendes.
São Gonçalo do Rio
da Pedras (MG).
Foto: Fernando
Mendes.
Largo Félix Antônio. São Gonçalo do Rio das Pedras (MG). Foto: Fernando Mendes.
Diamantina (MG) a 32 quilômetros.
16/01/2017 |
||
21º dia |
São Gonçalo do Rio das Pedras (MG) a Diamantina (MG) |
32 km |
Acordei com o forte barulho da chuva, à semelhança
de uma artilharia, sobre a cobertura que dá acesso [dos quartos] à sala de café
da Pousada Fundo de Quintal.
Após o café da manhã me despedi do
grande amigo Ademil e zarparei rumo a Diamantina (MG), "onde nasceu JK",
em 12/09/1902, 32 quilômetros à frente.
Como não sou de açúcar, ignorei o aguaceiro que desabava impiedosamente sobre a Estrada Real deixando-a enlameada e com piso deveras escorregadio.
Estrada Real trecho São Gonçalo do
Rio das Pedras (MG) a Diamantina (MG).
Foto: Fernando Mendes.
Estrada Real trecho São Gonçalo do
Rio das Pedras (MG) a Diamantina (MG).
Foto: Fernando Mendes.
Seguia com cautela. Passei pelo
bucólico povoado do Vau, subdistrito de Diamantina (MG), quando a chuva estiou.
Daquele ponto em diante, o asfalto
cobriu o leito natural do caminho histórico. “A marcha do progresso é a minha
grande dor”, conforme está na canção "Mágoa de Boiadeiro", composição
de Índio Vago e Nonô Basílio, imortalizada na voz de Sérgio Reis.
Na canção Poeira da Estrada, de José Camilo, um trecho que muito tem a ver com a "marcha do progresso". Ei-lo:
Estrada que era vermelha de
terra
Que o progresso trouxe o
asfaltado e cobriu
Estrada que hoje chama rodovia
Estrada onde um dia meu sonho
seguiu
Estrada que antes era boiadeira
Estrada de poeira, de Sol, chuva
e frio
Estrada ainda resta um pequeno
pedaço
A poeira do laço que ainda não
saiu.
A paisagem da Serra do Espinhaço é
belíssima e as formações chegam à beira da Estrada Real. As subidas são fortes.
Cheguei a Diamantina (MG) - 47.702 habitantes.
Censo IBGE 2010 - às 14h 30.
Antes de providenciar estada no Hotel
Tijuco fui ao Centro de Informações Turísticas de Diamantina (MG) (*) retirar o Certificado Estrada
Real Caminho dos Diamantes.
Em seguida, dirigi-me à Igreja Matriz de Santo
Antonio. Fotos e orações.
(*) "O
povoado (arraial do Tijuco - atual Diamantina (MG) - cresceu ao redor do
templo, erguido em uma praça.
Gradualmente adquiriu formato quadrangular,
diferente e mais organizado que o das demais cidades históricas mineiras, em geral
sinuosas e desordenadas, como se pode observar atualmente nas ladeiras de Ouro
Preto (MG), Tiradentes (MG) e São João del Rei (MG)".
Fonte: Júnia Ferreira Furtado, Chica da Silva e o
contratador de diamantes: o outro lado do mito. p. 39.
Igreja Matriz de Santo Antonio em
Diamantina (MG).
Fotos: Fernando Mendes.
Igreja Matriz de Santo Antonio em
Diamantina (MG).
Fotos: Fernando Mendes.
CHEGUEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEIIIIIIII!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Essa foi a mais top viagem que fiz pela Estrada Real. No quadro abaixo, minhas sete edições por esses caminhos.
MINHAS 7 EDIÇÕES PELA ESTRADA
REAL (2011 a 2022) - POR ENQUANTO |
|
Maio 2011 |
Diamantina (MG) a Paraty (RJ) |
Outubro 2011 |
Serro (MG)
a Itaponhaganga (MG) a Conceição do Mato Dentro (MG) à Serra
do Cipó (MG) a Conceição do Mato Dentro (MG) ao Serro (MG) |
Junho 2014 |
Conceição do Mato Dentro (MG)
a São Lourenço (MG) |
Janeiro 2015 |
Diamantina (MG) a
Conceição do Mato Dentro (MG) |
Julho 2015 |
Ouro Preto (MG) a Paraty (RJ) |
Janeiro 2017 |
Petrópolis (RJ) a Diamantina
(MG) |
Maio 2022 |
Paraty (RJ) a Ouro Preto (MG) |
Brasília (DF), 1º/03/2017,
452º aniversário de fundação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.
Prezado, Xará! É sempre um prazer encontrá-lo aqui em Bom Jesus do Amparo-MG, prosear e atualizar as informações sobre as histórias, viagens e a Estrada Real. Seus relatos e fotos aqui publicados, são sempre ótimas referências para leitura e informativo para os futuros viajantes. Seu apoio nossos projetos: Livros dos Viajantes, Mais Livros para nossas Bibliotecas (iniciado pelo seu livro/presente que recebi em 2011), carimbo personalizado, cartas para os amigos da ER levadas e trazidas por vocês viajantes, o Abraço Real e o Certificado de Visita; foi e é imprescindível. Muito obrigado!!! Seja sempre bem-vindo! Abraço Real do Fernando Gonçalves, Guia de Turismo. E-mail: fernandogoncalves.tur@gmail.com
ResponderExcluirMeu caro amigo, muitíssimo grato pelas palavras e pela sua amizade. Existe grande possibilidade de entre os dias 11 e 16 de dezembro deste ano, eu passar por BJAmparo. Manterei você informado do dia de minha chegada. Forte abraço.
ExcluirOlá! Disponha meu caro! Que legal saber que poderá nos visitar novamente. Obrigado pela amizade e atenção. Abraço Real
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